Meta de inflação é um rio que divide o BC

  • 3/02/2017
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O Banco Central é um coração partido quando se trata da redução da meta de inflação. Dois diretores defendem radicalmente a manutenção da meta de 4,5% pelo menos durante os próximos três anos. Um deles, inclusive, é autor de paper acadêmico sobre o assunto em parceria com ilustre professor, na qual se posiciona abertamente pró manutenção da meta. Os demais se dividem entre os hawkish (os “falcões”, radicais da política monetária) e os dovish.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, tateia com cuidado a questão. É dele a opinião de maior peso na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) programada para junho deste ano, quando será decidido, entre outros temas, o inflation target para 2019 – ou 2018, se os “falcões” atraírem Ilan para o lado negro da força. Ilan é o divisor de águas do CMN. Primeiramente, porque o BC será o operador da meta; segundo, porque os demais membros do Conselho, os ministros Henrique Meirelles e Dyogo Oliveira, reconhecem que Ilan entende muito mais do assunto. Até por dever de ofício, quando a reunião se aproximar ele já terá estressado o tema com os técnicos do BC, no ambiente mais abalizado para discutir o inflation target.

O lobby que ganha corpo, como sempre, é o do mercado financeiro, o mais beneficiado com a redução da meta. Mas, mesmo os “piranhas” do mercado, como diz a professora Maria da Conceição Tavares, estão parcimoniosos em relação ao target. Pedem 3% para ganhar 3,5%, com a manutenção dos intervalos de segurança. O BC projeta uma taxa de inflação de 3,4% em 2018. Uma das ideias discutidas pela autoridade monetária é reduzir em meio ponto percentual a meta, com base nas projeções de junho para a taxa de dezembro de 2017.

Se o cálculo fosse feito neste mês, quando as projeções de inflação convergem para 4,4%, o novo target seria de 3,9%. A meta mais baixa traz um potencial efeito colateral: o BC, por cautela, tenderia a reduzir o ritmo de queda da taxa de juros. As instituições financeiras agradecem. Mas do que a economia precisa no momento é exatamente de queda dos juros. Além do mais, uma diminuição brusca da meta, para 3% em 2019, ou mesmo antecipada para 2018, por exemplo, deixaria sua sustentabilidade mais frágil, na medida em que qualquer imprevisto externo ou choque nas variáveis de preços jogaria a inflação para fora do centro, suscitando nova elevação dos juros. Há ainda a questão da dominância fiscal.

Seria recomendável concluir o ajuste para, aí sim, ancorar a expectativa inflacionária em outro patamar mais consistente. E como lidar com uma inflação mais baixa do que a meta? Afinal, meta é algo a ser superado. Os agentes econômicos teriam o intervalo mais baixo, com gosto de meta, traduzindo igualmente o sucesso da política monetária. E uma oscilação pequena em torno do target não chega a ser um desarranjo, nem desancora as expectativas. O mais provável é que Ilan tope um aumento suave da meta para 3,9%, mas só a partir de 2019, conforme o calendário original do CMN. E redirecione o BC para o foco na atividade econômica e, por conseguinte, para a redução do desemprego. O lado solar da força, onde o BC há muito tempo não se faz presente.

#Banco Central #Ilan Goldfajn

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