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Mercado
O frisson causado pela segunda cirurgia do presidente Lula confirma a incompetência da comunicação do governo e retira dos generais e acólitos de Jair Bolsonaro a primazia sobre o “gabinete do ódio”. Se os irresponsáveis do Palacio do Planalto tivessem anunciado a previsão de mais uma cirurgia logo após a primeira, a repentina torcida pela abreviação do seu mandato – estimulada, diga-se de passagem – seria dissipada. Imagina-se que os médicos não fariam a divulgação dos procedimentos cirúrgicos no presidente dessa forma esquizofrênica, ou seja, dividida em duas etapas, se não houvesse algo acertado com os comunicólogos do governo. Com relação à nova versão do “gabinete do ódio”, é como se o mercado tivesse feito um take over e um rembranding, simultaneamente. Os generais e acólitos bolsonaristas saíram temporariamente de cena. O mercado, um ectoplasma segundo o jornalista Elio Gaspari, instalou o “gabinete da morbidez”, fazendo das redes e de algumas mídias o espaço para o seu banquete fúnebre. Por volta das 14h, o monitoramento da Internet mostrou uma inundação de notícias sobre o “agravamento” do estado de saúde de Lula e sua associação com a melhoria dos ânimos do mercado. Nenhum pudor, nenhum escrúpulo. O discurso entusiástico se dirigia a uma outra bolha, o tal mercado.
Trata-se de uma questão quase metafísica. Na individualidade dos seus membros, o mercado não é nem bom nem mau. Mas, quando seu credo ideológico, a racionalidade dos lucros crescentes é ameaçada, aí sim, ele pode ser pérfido e cruel. Por volta do mesmo horário já citado acima, criou-se nas redes uma espécie de jogo de apostas em três variáveis “favoráveis” ao ajuste econômico – leia-se fiscal: o prolongamento do martírio de Lula com a ampliação da sua internação hospitalar; a permanência na UTI por um prazo maior e o término antecipado da sua gestão. Adivinhem qual é a opção mais votada… Um destaque para o fato de que a alternativa da recuperação rápida e desejável do presidente não constou dessa loteria funesta. Nietzche diria que tudo isso é demasiadamente humano. O filósofo, se assistisse aos acontecimentos, talvez trocasse o predicado humano, a despeito do subtexto da palavra. Tudo isso, quer seja sobre os disfarces de diagnóstico viciado, torcida mórbida e perversidade enrustida, é demasiadamente desumano. Como bem apontou, com seu habitual tom de pilhéria, a coluna “The Piauí Herald”, da revista Piauí, é capaz do dólar cair a R$ 1 se Lula se submeter a mais cinco cirurgias…
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