Institucional

Lula desponta como “cleaner” da reputação das Forças Armadas

  • 8/01/2024
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Lula tem diante de si um custo de oportunidade em um dos terrenos mais sensíveis para o seu governo: as Forças Armadas. No seu entorno, há o entendimento de que o presidente da República tem como contribuir para a recuperação da reputação dos militares – algo que, por sua vez, poderia ajudar também em um distensionamento nas relações entre o petista e a instituição. A premissa é que Lula colabora naturalmente para a descontaminação da imagem da Aeronáutica, da Marinha e, sobretudo, do Exército, ao não empurrar para as Forças Armadas pautas incômodas como as que ajudaram a minar seu capital reputacional nos últimos anos. Bolsonaro foi determinante para a piora da percepção da sociedade em relação aos militares ao levar para dentro dos quartéis temas como golpe, corrupção e aparelhamento da máquina pública. Não obstante a sintonia ideológica e, por extensão, política, o ex-presidente custou às Forças Armadas possivelmente o menor índice de confiança e o maior desgaste de imagem desde a redemocratização.

Um mergulho na exposição das Forças Armadas ajuda a enxergar e mensurar o impacto negativo dos anos Bolsonaro sobre a imagem da instituição. O mergulho, neste caso, é a análise de 122.563 veículos de todo o Brasil, por meio do uso de ferramenta de busca e inteligência artificial. O levantamento corrobora que a palavra “golpe” gradativamente grudou nas menções aos militares. Em 2018, último ano do governo Bolsonaro, houve 1.994 citações às Forças Armadas associadas ao termo, em sua maioria referências históricas ao passado. A partir de 2019, o pretérito deu lugar ao presente. As seguidas declarações dúbias de Bolsonaro e as ameaças subliminares – às vezes nem tanto – de ruptura institucional levaram a uma disparada da vinculação da ideia de golpe aos militares. 

Em 2019, primeiro ano de mandato do “capitão” foram registradas 23.618 referências a “Forças Armadas” e “golpe”, um salto de 1.085% em comparação a 2018. No ano seguinte, esse número subiu a 27.696 menções. Com a escalada das tensões institucionais e a proximidade das eleições, a soma de registros associando às Forças Armadas a um golpe chegou a 49.129, em 2021, e 50.160, em 2022.  O fim do governo Bolsonaro não significou um freio nessa associação. Pelo contrário. O 8 de janeiro, a descoberta de uma “minuta do golpe” e a prisão do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres inflaram ainda mais o número de citações. No ano recém encerrado, os 122.563 veículos analisados somaram mais de  65.000 menções a “Forças Armadas” e “golpe”. 

A mineração dos dados permite aferir o quanto o governo Bolsonaro contaminou, sobretudo, a imagem do Exército. Em 2018, houve 2.828 registros associando a instituição a golpe. No ano seguinte, com a chegada de Bolsonaro ao poder, esse número já cresceu para 25.752, ou seja, oito vezes maior. Em 2022, seu último ano de governo, foram 49.604 registros. Nada que se compare a 2023. Pelos mesmos motivos já descritos acima, ao longo desse ano foram 100.166 referências vinculando o Exército a golpe. Seja pela sua ascendência natural em relação às demais Forças, seja pela presença esmagadoramente majoritária entre os militares que ocuparam cargos no governo Bolsonaro, o Exército foi o mais atingido em sua reputação. Apenas a título de comparação, em 2023, Marinha e Aeronáutica somaram, respectivamente, 17.251 e 9.073 citações ligadas à expressão “golpe”.

Assessores próximos a Lula entendem que o seu governo pode também servir como um contraponto à gestão anterior no que diz respeito a vinculação dos militares a pautas “criminalizantes”. O governo Bolsonaro conseguiu algo até então improvável: associar a imagem das Forças Armadas à corrupção. Em 2018, houve 6.146 registros com menção a “militares” e corrupção, ou seja, uma média de 16,8 por dia. Na esteira, sobretudo, do caso das joias árabes e do envolvimento do tenente-coronel Mauro Cid, esse número disparou para 112.503 em 2023; ou seja, a cada dia, houve 308,2 citações associando militares à corrupção.

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