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Lula corre o risco da “Síndrome de Biden” no melhor momento do seu governo

  • 13/03/2024
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A retirada de pautas de “costumes” e “identitárias” da lista de 48 projetos prioritários em tramitação no Congresso indica que o Palácio do Planalto começou a entender o tamanho do problema. O governo precisa falar para fora das suas bases. O maior desafio da gestão Lula, neste momento, é mudar a percepção de uma parcela significativa da população que não se sensibiliza com velhas bandeiras petistas e nem mesmo com os bons números da economia – ainda que parte expressiva dessas conquistas sofra um delay até serem vivenciadas. Este diagnóstico é compartilhado por uma das poucas cabeças críticas e pensantes do PT, o ex-ministro José Dirceu. Em conversas reservadas, Dirceu tem colocado o dedo na ferida: o governo não consegue se comunicar com uma faixa que vai de 30% a 40% da população formada por eleitores moderados, leia-se um “centro” que não é Bolsonaro-raiz nem lulista. E tampouco tem sido capaz de mobilizar o seu próprio eleitorado cativo – prova disso é a inércia da militância petista.

É como se o governo estivesse apostando todas as fichas na velha empatia de Lula, um risco a ser ponderado. Este é um tema sensível para ser tratado até mesmo em petit comité, nos círculos petistas mais intestinos. Esse ponto de atenção se cruza com questões delicadas, como a hipótese de Lula estar sofrendo de uma espécie de “Síndrome de Biden”. A passagem do tempo, a sensação de envelhecimento, não apenas físico, mas de suas ideias, e a contínua mesmice formam o que pode vir a ser uma combinação fulminante para o presidente. Ainda mais com uma comunicação que tem se revelado incapaz de suprir os sinais de defasagem da sua velha receita política.

Sob certo ângulo, um dos principais adversários do governo Lula é o próprio Lula. O presidente de 2024 não é mais o presidente de 2003. Seu discurso parece ter empenado para um só lado. Lula fala sobre a Guiana, Venezuela, Israel, Gaza, Conselho de Segurança da ONU, Nicarágua, União Africana, como se bastasse virar as caixas de som apenas o exterior. São muitos decibéis para a comunidade internacional, sussurros para o front interno e, o que é ainda pior, um silêncio quase absoluto em relação ao tal “centro” do eleitorado que não tem “time de coração”. Um erro que pode custar caro. O PT não tem gordura eleitoral para queimar. Qualquer percentual de aprovação perdido neste momento pesará muito em 2026.

A má comunicação do governo foi, inclusive, pauta de uma entrevista do ministro Rui Costa, ontem, à GloboNews. A gestão Lula não vem conseguindo capitalizar nem mesmo realizações importantes que têm impacto direto no dia a dia e no bem-estar da população. A queda do índice de aprovação se dá justo no momento em que a inflação está sob controle, o desemprego recua, as taxas de juros cedem gradativamente, a renda sobe, o consumo cresce, a insegurança alimentar diminui etc. É como se todas essas coisas acontecessem em Mercúrio e Lula presidisse Netuno.

O trabalho da Secom, comandada pelo petista Paulo Pimenta, tem sido motivo de críticas nas diversas matizes da esquerda. Se Lula não está ajudando muito, a estrutura de comunicação do governo também tem feito pouco para estancar a perda de popularidade do presidente. É notório e sabido que o Palácio do Planalto e, mais especificamente, a Secom não têm a mesma competência da oposição no uso das mídias sociais. Não se vê nas redes a construção de uma narrativa por parte do governo capaz de sensibilizar a opinião pública. Bolsonaro, ao contrário, segue a todo vapor no ambiente digital. No “X” (o antigo Twitter), por exemplo, tem 12 milhões de seguidores, 3,3 milhões a mais do que o perfil de Lula. Segundo levantamento realizado pelo RR, as 27 postagens feitas na conta oficial do presidente da República ao longo dos últimos cinco dias (até o fim da tarde de ontem) tiveram, em média, 11.720 curtidas. Já as 13 publicações do perfil de Bolsonaro no “X” durante o mesmo período atingiram praticamente o dobro: 21.800 curtidas, em média.

A incapacidade da gestão Lula e do próprio presidente da República em dialogar fora da faixa do seu eleitorado histórico e dar visibilidade as suas ações se torna ainda mais problemática diante de um governo vazio de “rostos” e de nomes. De todos os ministros, o único que demonstra capacidade de comunicação é Fernando Haddad. Ainda assim, com abrangência restrita: Haddad fala praticamente para uma única rua, que começa em Pinheiros e termina no Itaim Bibi.

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