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Aécio Neves tem os dois pés muito bem fincados no setor elétrico. A Polícia Federal, que já vasculhou as relações heterodoxas entre Aécio e Furnas, agora está investigando denúncias do envolvimento não convencional do senador com a Cemig. As apurações passam obrigatoriamente pelo empresário Sérgio Andrade e pela associação entre a Andrade Gutierrez e a estatal mineira. A operação é a peça-chave do quebra-cabeças.
Há suspeitas de transferência de recursos da Cemig em benefício de Aécio a partir justamente da entrada da empreiteira no capital da distribuidora. Uma parcela do dinheiro teria sido destinada para financiar, irregularmente, campanhas eleitorais do senador e de aliados do PSDB. A Polícia Federal garimpa contratos com fornecedores e parcerias com terceiros realizadas pela Cemig entre 2009 e 2011 – não por coincidência, um ano antes e um depois do ingresso da construtora no seu capital. A PF investiga também outras pontas no relacionamento entre Aécio e Sergio Andrade.
É o caso da participação da Andrade Gutierrez no consórcio que ganhou a licitação para a construção da Cidade Administrativa, sede do governo mineiro, em 2007. Delatores da Lava Jato já relataram o pagamento de propina a Aécio referente ao contrato de R$ 2 bilhões. No fim de 2009, a Andrade Gutierrez assumiu uma dívida de R$ 2,11 bilhões da AES com o BNDES. Em troca, recebeu dos norte-americanos o equivalente a 32,96% do capital votante da Cemig, ações que haviam sido dadas como garantia ao banco de fomento.
À época, Aécio Neves foi mais do que um entusiasta da associação. Usou toda a sua influência como governador de Minas Gerais para garantir o intrincado acordo e a presença da construtora no capital da distribuidora de energia. Para Aécio, tinha de ser a Andrade e ponto. A rigor, ressalte-se, o negócio só viria a se consumar efetivamente em junho de 2010, quando ele já havia se desincompatibilizado do cargo de governador para concorrer ao Senado.
No entanto, o acordo entre Andrade Gutierrez, AES e BNDES foi fechado em 22 de dezembro de 2009, quando Aécio ainda estava no governo. A operação transformou Sergio Andrade em um minoritário peso-pesado da distribuidora. Ele passou a ter voz não só na condução da estratégia de negócios da Cemig, mas em questões capitais como política de distribuição de dividendos, parcerias operacionais, contratos com terceiros. A dobradinha Aécio/Sergio Andrade se espraiava também sobre a Light, controlada pela estatal mineira. Uma fonte da distribuidora fluminense ligada a Jerson Kelman, que comandou a empresa entre março de 2010 e agosto de 2012, afirma que era perceptível a influência de Aécio junto a acionistas da companhia.
Kelman,B por sinal, deixou a presidência da Light por conta de divergências com executivos indicados pela Cemig e pelas tentativas da companhia mineira de interferir na gestão da controlada. O RR entrou em contato com os citados. A Polícia Federal informou que “não se manifesta sobre investigações em andamento”. A assessoria de Aécio Neves diz que “a entrada da Andrade Gutierrez como sócia da Cemig não guarda nenhuma relação com o governo de Minas e, por extensão, não guarda nenhuma relação com o senador”.
Ressalta também que “a Andrade Gutierrez comprou as ações da Cemig diretamente do BNDES. Foi, portanto, uma negociação com o governo federal, à época administrado pelo PT”. Ainda de acordo com a assessoria de Aécio, “Quando a Andrade Gutierrez se tornou sócia da Cemig (em junho de 2010), o senador não era mais sequer governador do estado (março de 2010). Portanto, não poderia ter qualquer relação com a operação”. A Cemig não quis se manifestar sobre o assunto. O RR fez também seguidas tentativas de contato com a Andrade Gutierrez até depois do horário estipulado para o fechamento desta edição. O último e-mail para a assessoria da construtora foi enviado às 19h08, seguido de um recado telefônico. No entanto, a empresa não retornou.
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