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Jair Bolsonaro já deu provas de que quando é necessário exerce o bom e velho pragmatismo. Na campanha eleitoral precisou de adversários calculados entre os órgãos de imprensa para fazer o contraponto aos veículos de comunicação evangélicos aliados. A toada seguiu depois das eleições. A Globo foi escolhida como “inimiga” antes mesmo de ser inimiga. Depois veio a Folha de S. Paulo, que recebeu um ataque de extrema violência, a ponto de quase ter suspensa suas assinaturas para toda a esfera de governo. Publicidade então, nem pensar. O fato é que a Folha ascendeu ao posto de inimigo figadal, e a Globo foi deslizando do “status de mídia do mal”, digamos assim, para “mídia implicante”. O RR teve informações seguras de que, se não chega a haver um namoro, não há mais a mesma inamistosidade com o grupo carioca de mídia.
Uma entrevista de Bolsonaro à TV Globo cheia de salamaleques pode ser um primeiro passo para selar as pazes. O desarmamento dos dois bicudos não começou ontem. O insistente trabalho de aproximação feito pelo vice-presidente da Globo, Paulo Tonet – superlobista em Brasília – contou valiosos pontos. Os Marinho, com seu estilo de silêncio e discrição, também colaboraram. Para a distensão somou ainda um editorial caloroso de O Globo com tema e timing corretos. A figura onipresente de Paulo Guedes também colaborou, mineiramente, para mitigar o incômodo entre as partes. João Roberto Marinho tem declarada admiração intelectual por Guedes.
Na Globo, contudo, não há percepção de que sinais concretos de simpatia emanem do Planalto. Persiste o incômodo com a diferença de tratamento na aprovação da publicidade. Com o recente noticiário mais agressivo sobre o caso Flavio Bolsonaro, o RR voltou a sua fonte para sondar se algo tinha mudado. A resposta foi que estava tudo como dantes no quartel de Abrantes. Ou seja, a disposição para o flerte persiste. Também ficou claro que um ponto de inflexão nas relações mútuas seriam as próximas eleições. Trata-se de acontecimento demasiadamente relevante para que o Palácio do Planalto e o Grupo Globo simplesmente ignorem a necessidade de entendimentos. Bem, que se deixe claro que qualquer arranjo pode ser efêmero. O Palácio do Planalto jogou em alguma ribanceira o critério de mídia técnica.
Durante todo o ano de 2019, os anúncios obedeceram à régua da maior ou menor subserviência ao governo. A Record ganhou mais
dinheiro do que em toda a história da emissora. O SBT também fez a farra. Com tamanha assimetria de tratamento, ninguém pode arriscar que as pazes durem tanto. Portanto, ao contrário dos dizeres de Tomasi di Lampedusa, é preciso garantir que mudanças foram feitas para que as coisas mudem mesmo. Com o tratamento a seco nos anúncios, a Globo dispensa carinhos. O RR acredita que
todos têm o benefício de mudar para melhor. Até mesmo Jair Bolsonaro
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