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Jair Bolsonaro e seus acólitos estão montando uma agenda de manifestações de rua e de eventos reunindo tradicionais grupos de apoio do ex-presidente, como ruralistas e evangélicos. A ideia é divulgar o calendário com razoável antecedência, de forma a mobilizar seguidores e fazer espuma nas redes. Na métrica de Bolsonaro e de seu entorno, o engajamento nas mídias sociais será uma demonstração de força tão sonora quanto os próprios atos públicos. Vide a Avenida Paulista.
Além da expressiva presença de seguidores – 185 mil pessoas nos cálculos do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP -, a manifestação do último dia 25 de fevereiro ajudou a turbinar as menções a Bolsonaro nas redes. Um exemplo: os disparos via Telegram, que haviam perdido um pouco da sua força após a saída de Bolsonaro da Presidência da República, voltaram a crescer. Segundo levantamento do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos dias anteriores 96 grupos bolsonaristas replicaram continuamente mensagens de convocação.
O clã Bolsonaro acredita que os números, tanto de comparecimento nas ruas quanto de impacto nas redes, podem ser bem maiores se todas as datas forem anunciadas antecipadamente.
O chamamento de Bolsonaro aos seus apoiadores mais viscerais serve a diferentes propósitos. Um deles é um pretenso efeito dissuasivo sobre o Judiciário. Quanto mais as investigações do STF avançam, maior a necessidade de o ex-presidente mostrar que tem gente na rua disposta a defendê-lo. Ao mesmo tempo, do ponto de vista político é necessário manter a chama do “bolsonarismo”.
Há uma eleição ali na esquina: o pleito municipal de outubro será o primeiro teste de Bolsonaro e de seus aliados nas urnas depois da derrota para Lula em 2022. E um “esquenta” para 2026.
Além da organização de manifestações de apoio ao ex-presidente, o clã Bolsonaro enxerga também a possibilidade de “capturar” efemérides com potencial para, digamos assim, eletrizar seus seguidores. Há duas janelas de oportunidade no curto prazo. Em 31 de março, o golpe militar de 1964 completará 60 anos. Praticamente dois meses depois, no dia 30 de maio, em São Paulo, será realizada a 32ª Marcha para Jesus, um dos maiores eventos evangélicos do país.
A estratégia do clã Bolsonaro de agendar antecipadamente um calendário de eventos é uma faca de dois gumes: se, por um lado, permite incitar os próprios seguidores, por outro dá munição ao adversário. Ou seja: possibilita que o governo trabalhe com alguma folga no monitoramento e na desconstrução das manifestações. A mobilização da Avenida Paulista colocou alguns grilos na cabeça dos assessores mais próximos de Lula.
O que mais incomoda o Palácio do Planalto é o risco da agenda “bolsonarista” envolver a convocação de grupos específicos de apoiadores do ex-presidente, como agentes de segurança de fora da ativa e representantes de clubes de tiro. Além disso, o evento da Avenida Paulista reforçou a resiliência do “bolsonarismo” mesmo em um ambiente com fundamentos positivos para o atual governo. Bolsonaro colocou quase 200 mil pessoas na rua com o PIB acima das expectativa, taxa de juros em declínio, desemprego a 7,6% – a menor taxa desde 2015 -, inflação sob controle. Ou seja: ao que parece, uma fatia expressiva dos apoiadores de Jair Bolsonaro é imune à melhora do país. Até porque uma parcela importante desse apoio é alimentada pelo antilulismo.
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