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Governo Lula tenta adoçar um pouco mais as relações comerciais com os Estados Unidos

  • 5/09/2024
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Jair Bolsonaro tentou e não conseguiu; agora é a vez de Lula encarar uma complexa pauta bilateral. O RR apurou que o Brasil retomou negociações com o governo norte-americano com o objetivo de ampliar sua cota para exportações de açúcar aos Estados Unidos.

A missão mobiliza a cúpula da diplomacia brasileira – o chanceler Mauro Vieira e a embaixadora brasileira em Washington, Maria Luiza Viotti – e a Pasta da Agricultura, notadamente o ministro Carlos Fávaro e o secretário de Comércio e Relações Internacionais, Roberto Perosa.

Anualmente, os embarques brasileiros com direito a alíquota reduzida ou isenção tributária oscilam entre 150 mil e 170 mil toneladas por ano. O número corresponde a apenas 5% de todas as vendas de açúcar do país para o exterior. Os produtores brasileiros querem subir esse sarrafo para algo próximo de 230 mil toneladas.

Seria o suficiente para o Brasil se tornar o maior entre os “menores” exportadores de açúcar para os Estados Unidos, superando a República Dominicana (190 mil toneladas por safra) – o “maior entre os maiores” é o México, que, sob o manto do Nafta, exporta mais de um milhão de toneladas para o Grande Irmão do Norte.

Ocorre que as tratativas entre o Brasil e os Estados Unidos estão enroscadas em um nó difícil de desatar. Há informações de que o governo brasileiro aceita diminuir a alíquota para a importação de etanol, hoje de 18%, uma exigência dos norte-americanos.

O complicado, nesse caso, é dobrar a resistência interna do agronegócio, nesse caso específico uma hidra de duas cabeças. Com o chapéu de produtor de açúcar, os usineiros reivindicam maior espaço no mercado norte-americano; já com o chapéu de produtor de etanol, colocam o governo contra a parede e rechaçam a possibilidade de redução das barreiras tributárias para a importação do biocombustível.

No governo Lula, há um certo clima de “Ou vai ou racha”. A negociação está, desde já, indexada ao resultado das eleições norte-americanas. Se a democrata Kamala Harris vencer, o Brasil terá espaço, ao menos, para seguir com as tratativas, por mais intrincadas que elas seja. Mas se o protecionista Donald Trump voltar à Casa Branca, esquece!

É muito pouco provável que a diplomacia brasileira consiga levar o assunto adiante. Nem mesmo Bolsonaro, um confessor bajulador de Trump, teve sucesso. Entre 2019 e 2020, o então presidente brasileiro concedeu todas as benesses para a entrada do etanol norte-americano no Brasil – em 2019, o país comprou do Tio Sam mais de 1,1 bilhão de litros, ou 90% das importações totais.

Bolsonaro estava convicto de que seria uma via de mão dupla, abrindo caminho para o aumento das exportações de açúcar aos Estados Unidos. Ficou a ver navios. O máximo que conseguiu foi uma esmola glicosada – uma cota adicional para a venda de 80 mil toneladas de açúcar aos Estados Unidos em 2020.

O governo Lula, por sua vez, retomou as conversas com os norte-americanos em um cenário bem mais desafiador. Há uma superoferta de açúcar no mundo. Segundo o próprio Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) a produção global em 2024 atingirá um recorde de 186 milhões de toneladas.

A própria safra norte-americana deverá alcançar a maior marca da sua história, com 9,5 milhões de toneladas. No país, há pressão da American Sugar Coalition, a poderosa associação dos produtores locais, para que o governo reduza até mesmo as importações do México.

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