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A saída do supermercado digital Justo do Brasil coloca o iFood e o Rappi na mira do Cade. A desistência da startup mexicana em operar no país aumenta a percepção de que existe um duopólio praticamente intransponível no setor de delivery de alimentos. Um a um, quase todos os principais concorrentes da calórica dupla ou deixaram o Brasil, caso também do Uber Eats e da 99 Food, ou foram engolidos, como a Box Delivery, adquirida pelo Rappi no ano passado, e a Pedido Já e SiteMercado, comprados pelo iFood.
Juntos, iFood e Rappi já detêm mais de 80% dos pedidos a restaurantes e mercados no país, um negócio que movimenta cerca de R$ 140 bilhões por ano. É muita comida no prato de poucos. E, a julgar por movimentos já em curso no mercado, essa concentração tende a se acentuar, sobretudo em relação ao iFood.
No mês passado, a empresa anunciou a compra de uma participação minoritária no aplicativo de supermercados online Shopper. O percentual não foi divulgado. No entanto, entre os investidores do setor, ninguém acredita que a plataforma controlada pela holandesa Prosus, gigante global dos investimentos em tecnologia, tenha se sentado à mesa para ser mandada e não para mandar.
Há quem diga que o iFood já calculou milimetricamente cada um dos próximos passos. Sua estratégia seria aumentar gradativamente a participação no Shopper até fisgar o controle da empresa, uma forma exatamente de não atiçar os órgãos antitruste.
Essa dissimulada expansão se aplicaria também a outro negócio. Em fevereiro deste ano, o iFood firmou um acordo com o Daki, aplicativo de entrega de compras com presença em São Paulo e Belo Horizonte.
No que depender do seu apetite, para essa parceria ganhar forma de um M&A seria um triscar de dedos. São dois unicórnios, mas um com uma protuberância córnea bem maior do que o outro. O Daki já foi precificado em US$ 1,3 bilhão – ainda que em sua mais recente capitalização, em janeiro deste ano, o valuation tenha caído para US$ 850 milhões, o que tecnicamente o transforma em um ex-unicórnio. Por sua vez, o iFood vale mais de US$ 5 bilhões.
O Uber Eats é um caso emblemático. O gigante global do mercado de delivery, com atuação em mais de seis mil cidades de 45 países, deixou o Brasil em 2022 dizendo ser impossível competir com as “barreiras artificiais impostas pelo iFood com sua conduta exclusionária”. Era uma referência aos contratos de exclusividade mantidos pela concorrente com restaurantes. A prática foi alvo de investigação do próprio Cade. Em fevereiro do ano passado, o iFood firmou um TCC (Termo de Compromisso de Cessação) com o órgão antitruste, com cláusulas para limitar os acordos de exclusividade.
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