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Eleição de Milei e o futuro do Mercosul

  • 23/11/2023
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De um lado, as intrincadas negociações para o acordo entre Mercosul e União Europeia; do outro, a possível ampliação dos BRICs, com a entrada, entre outros, da Argentina – projeto que tem no presidente Lula o seu maior patrocinador. E no meio de tudo, entra em cena Javier Milei, com suas promessas de desarrumar peças e desfazer movimentos no tabuleiro geopolítico. Para além do perímetro sul-americano, Milei é visto como uma ameaça ao Mercosul e, por um efeito dominó, às relações deste com outros blocos econômicos? A seguir, algumas análises que indicam como o fator Milei está sendo tratado na União Europeia e entre países dos Brics:

 

O Ministro de Alimentação e Agricultura da Alemanha, Cem Özdemir, analisou que a vitória de Milei dificultará o “ambiente” para a aprovação do acordo. Mercosul e União Europeia assinaram o tratado de livre comércio em junho de 2019, após duas décadas de negociação. Questões de preservação ambiental estão entre as principais diretrizes do acordo. A Alemanha é uma das principais doadoras do Fundo Amazônia. O ministro ponderou sobre a ascensão do populismo tanto na Europa quanto na América do Sul, pedindo a união entre as nações democráticas e aqueles que lutam para a preservação da floresta tropical.

 

As negociações entre Mercosul e UE encontram uma barreira no negacionismo do presidente eleito em relação às mudanças climáticas. O acordo representa também um trato de preservação da floresta amazônica. Países como França e Áustria, principalmente, podem ver na retórica negacionista de Milei um argumento para o fim do acordo. A não concretização pacto resultaria em perdas econômicas e políticas, sobretudo para a União Europeia, que tem tentado ampliar sua influência política desde o início da Guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

 

A eleição de Javier Milei preocupa pela incerteza. O ultraliberal mostrou, ainda durante sua campanha eleitoral, posição desfavorável ao Mercosul, classificando o bloco como uma “união aduaneira defeituosa” e defendendo a saída da Argentina. A promessa de saída do Mercosul conflita com o próprio discurso de Milei abertura de mercado. Os atrasos no acordo aconteceram por exigência da União Europeia de normas ambientais mais rigorosas. O Brasil é o atual presidente do bloco e vê com inquietação o resultado do pleito argentino, assim como parlamentares europeus, preocupados com as negociações do acordo entre União Europeia e Mercosul. O resultado vai acelerar a oficialização do tratado entre os dois blocos, cujas negociações ocorrem há duas décadas.

 

Na avaliação de Patricio Giusto, diretor do think tank Observatório China-Argentina, é líquido e certo: a Argentina não vai entrar no “Clube dos Brics”. A avaliação é que Javier Milei não mudará sua posição. Para isso, conta internamente com o apoio do partido da Proposta Republicana, pelo qual se elegeu. Os olhos de Milei estão voltados para os Estados Unidos e Israel, classificados pelo novo presidente como aliados prioritários da Argentina.

 

Na segunda-feira, um dia após o resultado das eleições argentinas, o presidente Lula e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen conversaram por telefone para avançar nas negociações do trato. Lula informou que pretende fechar o acordo ainda neste ano, até o dia 7 de dezembro, quando o Brasil deixará a presidência rotativa do Mercosul e que haverá uma reunião com von der Leyen para tratar do assunto durante a COP28, em Dubai. A União Europeia espera que a formalização aconteça até essa mesma data. Os dois lados aceleraram as negociações temendo a posse de Milei, que acontecerá no dia 10 de dezembro. Dentre os quatro países membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), dois deles, Paraguai e Uruguai, tem líderes com espectro político próximo a Milei. Entretanto, o futuro do bloco se dá principalmente pela relação com o Brasil, a maior economia e o atual presidente do Mercosul.

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