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Política
Ainda tem muita obra para ser feita no DNIT. Mesmo após o afastamento do general Antônio Leite dos Santos Filho do comando geral do órgão e da saída de outros diretores, há um cluster bolsonarista que permanece incrustado na autarquia, dando as cartas em assuntos estratégicos. Esse protetorado vem agindo, sobretudo, com o objetivo de reestatizar concessões para atender interesses de parlamentares vinculados a Jair Bolsonaro e aliados do ex-presidente, a começar pelo próprio governador Tarcísio Freitas. O que se diz nos corredores do DNIT é que Freitas, funcionário de carreira do Departamento, mantém uma relação de chefe para subordinado com o diretor geral interino, Euclides Bandeira de Souza Neto, e com o diretor de Planejamento e Pesquisa, Luiz Guilherme Rodrigues de Mello. Ambos ascenderam ao primeiro escalão da autarquia em 2019, com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto e Freitas no Ministério da Infraestrutura. Para se ter uma ideia da pressão que, à época, Bolsonaro e Freitas imprimiram nas escolhas, tanto Souza Neto quanto Mello foram nomeados sem passar pela sabatina no Senado. Na ocasião, por interveniência direta do então presidente do Senado, David Alcolumbre, o Congresso alterou às pressas uma MP assinada por Bolsonaro. Com isso, devolveu ao Senado a prerrogativa da sabatina obrigatória para diretores do DNIT.
Além de nomes na primeira prateleira decisória do DNIT, o “bolsonarismo” ferve feito asfalto quente em cargos vicinais, mas com razoável poder regional – ou seja na ponta de chegada das verbas e na execução orçamentária. Segundo o RR apurou, uma das trilhas leva a Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, ainda com forte influência nas superintendências do DNIT na Bahia e no Ceará. Por sua vez, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, segue com tentáculos esticados dentro das representações do órgão no próprio estado e no Rio Grande do Sul. Na Superintendência do Rio de Janeiro, quem controla o “tráfego” é um seleto grupo de parlamentares do PSD. Já o PP, de acordo com a mesma fonte, permanece firme e forte movimentando os títeres dentro do DNIT no Piauí e no Maranhão – onde as cordas estariam nas mãos do ex-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
O intuito principal dessa “teia bolsonarista” é aproveitar o tradicional ziguezague de início de governo para preenchimento de cargos com o objetivo de abocanhar as rodovias que hoje se encontram com pendências de ordem administrativa ou jurídica. Aumentar a carteira de estradas sob gestão do DNIT é meio caminho andado para forçar a ampliação das verbas do órgão e, consequentemente, o escoamento desse dinheiro pelas respectivas capitanias políticas. É praticamente o ovo da serpente de um novo orçamento secreto chocado às custas da reestatização de rodovias quase a fórceps.
O caso ganha ainda mais gravidade pelo fato de o DNIT ser historicamente um sugadouro de recursos públicos. Um dos maiores escândalos aconteceu com o próprio Tarcísio Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura. Em 2020, a Polícia Federal desbaratou o que à época ela própria chamou de um “sistema institucional de desvio de recursos públicos” a partir do orçamento do DNIT. Segundo as investigações, o esquema afanou mais de R$ 500 milhões em verbas do Departamento, notadamente com fraudes em licitações.
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