Economia
Declaração de Lula cria uma unanimidade de festim no Copom
O voto consensual do colegiado do Copom foi mais de ordem psicológica do que por convicção monetária. Os membros do Comitê deram uma prova de que nem toda a unanimidade é burra, como dizia Nelson Rodrigues. O empurrão de Lula, com sua fala desembestada contra Roberto Campos Neto na última terça-feira, criou uma situação reversa a sua pregação. A instituição Banco Central, segundo um alto funcionário ouvido pelo RR, se sentiu ofendida como um todo. O mercado, por sua vez, tornou-se uma biruta de aeroporto, submetida aos ventos da especulação. Ontem, em um determinado momento do dia, dava-se como certo que Campos Neto pediria o boné antes do fim do seu mandato. No ápice do mau senso, cogitou-se que os nomes de Aloizio Mercadante, Guido Mantega, e, pasmem, Gleisi Hoffmann, substituiriam o atual presidente do BC, ou, o que é menos pior, mas igualmente ruim, que Mantega ganharia pelo menos uma diretoria do banco, logo mais à frente. Falou-se também em André Lara Resende e Persio Arida para a titularidade do cargo – como o
RR informou ontem à tarde. Enfim, o mercado tornou-se uma sopa pedaçuda, no estilo português, com um monte de legumes, cortados de forma disforme e boiando no caldo.
A decisão unânime de manter a Selic no atual patamar não foi liderada por Campos Neto, mas pelos indicados pelo governo do PT. Todos concordaram em passar por cima do seu pensamento teórico sabendo que uma nova divisão do colegiado botaria fogo no mercado. A julgar pela manhã de hoje, essa “pax monetária” circunstancial surtiu efeito. O dólar é negociado a R$ 5,42, queda de 0,24%. Por sua vez, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 está em 10,61%, contra 10,67% no fechamento de ontem.
Nesse cenário, a conclusão é que ou Lula é um disparatado que mete seu bedelho em tudo ou é um gênio da psicologia. Fala uma coisa com a qual não concorda para que seus dizeres façam ela vingar ou erra mesmo por falar pelos cotovelos. Os juros ficaram onde estavam. Mas isso não quer dizer que essa unanimidade não possa ser efêmera. Aguardemos a próxima reunião do Copom.
#Banco Central
#Copom
#Lula