Há alguns nós na fiação societária da Taesa, uma das maiores empresas de transmissão de energia do Brasil. No setor, correm feito eletricidade relatos de divergências entre a Cemig e a colombiana ISA – as duas principais acionistas, respectivamente com 36% e 26% do capital votante. O trade off entre mais dividendos ou mais investimentos é apontado como o principal motivo de fricção. Ou seja: guardadas as devidas proporções, uma espécie de “dilema Petrobras”, em referência ao imbróglio decisivo para a queda de Jean Paulo Prates.
Há informações de que a ISA defende um freio na distribuição de lucros ainda maior do que o anunciado na semana passada, com o objetivo de fazer caixa para financiar um projeto de expansão mais arrojado. A proposta, no entanto, não encontra ressonância na Cemig, que parece ter outras prioridades. Nesse caso, a empresa estaria enxergando a questão não exatamente pelos próprios olhos, mas, sim, pelos do seu acionista controlador. Mais dividendos da Taesa significam mais dividendos da própria Cemig, que, por sua vez, significam uma transferência maior de recursos para o Tesouro de Minas Gerais.
Procuradas, Cemig e ISA não se manifestaram.
Na semana passada, o Conselho de Administração da Taesa aprovou a troca da base de cálculo dos dividendos – o lucro líquido regulatório substituiu o IRFS (padrão internacional de contabilidade). Com isso, a estimativa é o que o dividend yeld caia de 11% para 8% neste ano. Ainda assim, no entendimento de analistas – e provavelmente da própria ISA – o ganho de caixa gerado com a mudança não será suficiente para suportar uma ampliação dos investimentos no nível necessário.
De um lado, a Taesa tem sobre si o peso de uma alavancagem razoavelmente alta – a relação dívida líquida/Ebitda é de quase quatro vezes, índice que tende a crescer neste ano por conta dos projetos em desenvolvimento; de outro, a empresa vive uma espécie de “vai ou racha” em relação ao seu planejamento de mais longo prazo. Muito em razão das limitações de caixa, a Taesa não participou dos últimos dois leilões de transmissão da Aneel, o que cria um vácuo no “rejuvenescimento” da sua carteira de ativos. O tempo médio restante das suas concessões é o menor entre as grandes empresas de transmissão do país – 14 anos. Das 43 licenças de transmissão, 13 vencem em oito anos, sendo quatro delas em apenas seis anos. Ou seja: se não houver uma ampliação do portfólio, a Taesa corre o risco de ter uma “barriga” em sua receita já a partir de 2030. Mas, até lá, é possível que isso não seja mais um problema da Cemig.
A atual posição da distribuidora mineira na Taesa é uma incógnita.
A Cemig tem um pé dentro e outro fora da empresa. A estatal já anunciou a intenção de se desfazer da participação dentro do seu plano de desinvestimento. A informação é que teria, inclusive, sondado possíveis candidatos, o que talvez não passe de um jogo de pôquer para dourar a pílula. A ISA é vista no setor como a mais forte candidata à compra da participação. Há até quem diga que o assunto é objeto de conversas entre a estatal mineira e o grupo colombiano já faz pelo menos um ano. Assim como os dividendos, seria mais uma pauta de dissenso entre ambos.