Qual é o banco de André Esteves nos carros da Neta Auto no Brasil: o do carona ou do motorista? Essa é a pergunta que tem sido feita na indústria automotiva no rastro da mais nova montadora chinesa a chegar no país. A relação entre o BTG e a companhia tem suscitado especulações no setor. Para todos os efeitos, o banco veste o figurino de financiador. Em setembro, a Neta Auto obteve junto ao BTG um empréstimo de R$ 1 bilhão para dar ignição em sua operação brasileira – leia-se a importação de automóveis, o desenvolvimento de uma estrutura de recarga e a abertura de concessionárias.
O curioso é que a divulgação de um acordo dessa dimensão ficou praticamente restrita a algumas poucas publicações chinesas. No Brasil, a informação parece ter sido convenientemente envolta em uma nuvem de monóxido de carbono, a mesma que não permite se ver com muita clareza a posição do banco de André Esteves nessa engrenagem. Entre executivos do setor automotivo ouvidos pelo RR, não falta quem enxergue o montante de R$ 1 bilhão a ser desembolsado pelo BTG como um aporte de capital travestido de empréstimo, que daria ao banco uma participação societária relevante na operação da Neta Auto no Brasil.
Assim como uma posição estratégica em um dos negócios mais promissores da economia do futuro, a produção de veículos elétricos. O mercado brasileiro poderia ser – por que não? – apenas a primeira parada dessa dobradinha entre o BTG e os chineses. Além do Brasil, a Neta está expandindo seus negócios para o México, Equador e Costa Rica. O RR encaminhou uma série de perguntas ao BTG, mas o banco não quis comentar o assunto.
Fundada há exatamente uma década, a Neta Auto é uma das principais representantes do bloco conhecido como new energy vehicle (NEV), startups do setor automotivo que já nasceram voltadas à produção de automóveis eletrificados. A montadora é controlada pela holding Hozon Auto, que, por sua vez, tem como principais acionistas as chinesas CRRC Capital, 360 Security Technology e Shenzen Capital Group, braço de investimentos do governo da província de Shenzen. No momento, está em processo de IPO na Bolsa de Hong Kong. Desde 2014, concluiu dez rodadas de capitalização, nas quais levantou um total de US$ 2,75 bilhão.
No Brasil, a Neta está dando a largada oficialmente nesta semana, com o início das vendas de dois modelos de carros elétricos, o Neta Aya e o Neta X. Seria apenas um test driver. A montadora já planeja instalar uma fábrica no país, seguindo os passos das conterrâneas BYD e GWM. Teria no BTG um luxuoso parceiro para o empreendimento. O banco, ressalte-se, não é passageiro de primeira viagem na indústria automotiva. Em 2010, tornou-se sócio da Mitsubishi no Brasil, um investimento em grande parte guiado pela relação de amizade entre André Esteves e o empresário Eduardo Souza Ramos, que tem a representação para o uso da marca da montadora japonesa no país.