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A decisão de vender o equivalente a R$ 4 bilhões em ativos – entre os quais, toda a divisão de pet food – é apenas a parte mais visível da reestruturação que o Marfrig planeja fazer na BRF. O corte na carne vai ser profundo. Segundo informações apuradas pelo RR, as medidas incluem o fechamento de frigoríficos no Brasil e de escritórios no exterior, a começar pela Ásia, onde a companhia mantém seis representações. Essa promete ser a parte mais “simples” da história. Difícil mesmo será o próximo passo traçado pelo Marfrig: buscar junto aos credores da BRF uma repactuação do passivo – no mercado já se cogita até mesmo a possibilidade de uma recuperação extrajudicial. O entendimento é que a alienação de ativos, por si só, não será suficiente para abater a dívida da empresa nos níveis necessários. A companhia fechou 2022 com uma dívida líquida de R$ 14,6 bilhões, ou seja, o correspondente a 3,75 vezes o Ebitda. Um ano antes, esse múltiplo era de 3,12. A área de análise da Genial Investimentos já classificou esse patamar como “pouco saudável” e “um grande sinal de alerta” para a BRF. Mais recentemente, o BofA reduziu o preço-alvo da ação da empresa muito em razão da elevada alavancagem. Marcos Molina, dono do Marfrig, e seus executivos não precisam ler relatórios de research para saber que a situação da BRF é preocupante e exige soluções mais drásticas. O RR entrou em contato com o Marfrig, mas a empresa não quis se manifestar.
Valeu a pena Marcos Molina se empenhar tanto no take over da BRF? Esse é o questionamento que vem sendo feito pelos próprios executivos do Marfrig. Na companhia, a reestruturação é vista como uma espécie de “vai ou racha”. As duas empresas de alimentos têm se mostrado peças de difícil encaixe. Um ano após se tornar o maior acionista da BRF, o Marfrig não conseguiu capturar sinergias conforme o previsto, notadamente em relação à cadeia de fornecedores. Por ora, é como misturar água e azeite. Ou melhor: carne bovina, o forte do Marfrig, com frango e suínos, os negócios mais calóricos da BRF. Para piorar, há outros fatores que têm azedado essa feijoada corporativa. Neste momento, parece haver uma conjunção dos astros no mercado global contra esse gigante da proteína idealizado por Marcos Molina. O mercado norte-americano entrou em um ciclo de baixa, que já se reflete nos números da National Beef, braço local do Marfrig. No ano passado, o Ebitda das operações da companhia na América do Norte caiu 50,6% em relação a 2021. Foi uma das principais razões para o Itaú BBA, em recente relatório, reduzir o preço-alvo da ação do Marfrig de R$ 26 para R$ 8. A BRF, por sua vez, amarga números ruins no Oriente Médio. No quarto trimestre do ano passado, o Ebitda da empresa no chamado mercado halal caiu 18% na comparação com os últimos três meses de 2021. Ou seja: um dos melhores negócios da BRF não vive seus melhores dias.
A expectativa de reversão desses números está depositada na joint venture com a Halal Products Development Company (HPDC), subsidiária do Public Investment Fund (PIF), fundo soberano da Arábia Saudita. No total, a dupla acena com investimentos da ordem de US$ 500 milhões no Oriente Médio. A cifra, no entanto, não parece ser suficiente para abrir o apetite dos investidores. O elevado endividamento e os recorrentes prejuízos – R$ 3,2 bilhões em 2022 – têm feito a ação da BRF virar carne moída. Desde maio do ano passado, quando Marcos Molina assumiu uma posição de mando na empresa, o valor de mercado do frigorífico, caiu de R$ 15,1 bilhões para R$ 7,14 bilhões. Ou seja: dez meses depois, a participação de Molina na companhia vale apenas a metade.
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