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Brasil quer liderar criação do “G5” dos ativos florestais

  • 3/04/2024
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Celso Amorim, assessor especial de Lula na área de política externa, está matutando sobre a possibilidade de criação de um bloco de países detentores dos maiores biomas do mundo. A ideia circula em um petit comité de interlocutores do ex-chanceler no governo e já teria sido soprada pelo próprio Amorim ao pé do ouvido do presidente da República. O objetivo da iniciativa é juntar as nações que “oxigenam” o Planeta. Esse “ecossistema” multilateral seria razoavelmente restrito, formado a partir de critérios bem definidos. Haveria uma linha de corte entre os dez países com maior área florestal. Entrariam apenas aqueles cuja extensão das florestas corresponde a mais de 40% do território total. Além do Brasil (56%), essa lista inclui Rússia (49,4%), Canadá (49,2%), Congo (50%) e Indonésia (46,5%).

A iniciativa reforçaria o protagonismo do Brasil na discussão do tema mais candente do nosso tempo: as mudanças climáticas. Hoje, a questão da preservação das florestas é tratada praticamente de forma isolada, quando muito com a coletivização dos problemas nas COPs. A criação desse novo bloco permitiria aos seus integrantes ter maior poder de influência dentro dos grandes grupos multilaterais, como o G20, para defender interesses em comum. Um exemplo: reunidos, esses países estariam em melhor posição para exigir contrapartidas. Hoje, o combate ao desmatamento é praticamente um compromisso de mão única. Os custos de preservação dos biomas são individuais, a cargo quase que exclusivamente dos grandes detentores de recursos florestais; já os benefícios, tanto ambientais quanto econômicos, são coletivos – os dividendos são distribuídos para todas as demais nações. E ai dos “donos” das florestas que não fizerem o seu trabalho. São constantemente ameaçados de sanções comerciais e boicote de produtos por parte dos países centrais. No ano passado, por exemplo, durante a cúpula da Europa e da América Latina, em Bruxelas, o próprio governo brasileiro decidiu subir o tom a acusou França, Irlanda, Holanda e Áustria de protecionismo contra nações que não estariam atendendo a determinados critérios de desmatamento e emissões de carbono.

O projeto brasileiro não é algo simples. Passa por delicadas costuras diplomáticas, ainda que com uma grande probabilidade de adesão dos demais países. Até porque a ideia de Celso Amorim seria formar um bloco multilateral para valer, com agendas pré-definidas e um calendário com metas a serem alcançadas. O governo brasileiro já tem um exemplo do que esse movimento não pode ser, um benchmarking às avessas. Em novembro de 2022, durante a COP27, Brasil, Indonésia e Congo lançaram uma parceria para a preservação de florestas tropicais. À época, a iniciativa foi chamada de “Opep das florestas”. Após um ano e meio, o epíteto soa mais como ironia do que como uma tradução de forças desses países. Nesse tempo, o trio não fez qualquer ação prática.

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