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Está definitivamente aberta a temporada de conspiração na República. Chegou quem faltava: as elites nacionais, leia-se banqueiros, empresários e intelectuais vinculados aos donos das riquezas do país. O manifesto “Eleições serão respeitadas”, divulgado na última quarta-feira, é apenas a espuma dessa articulação. O que interessa está por debaixo, não é visível ainda e é mais relevante do que aparições em jornais ou nas redes sociais. O anúncio nas principais publicações do país, com 260 signatários, não deve ser interpretado como uma peça de marketing institucional e tampouco como uma mera operação de “democracy washing”.
Há dois recados nas entrelinhas do manifesto. O primeiro é que os grandes empresários do Brasil estão conversando. Não apenas entre si, mas com grupos de poder capazes de promover ou dar respaldo a uma mudança nos rumos políticos da Nação. A segunda mensagem está igualmente acasalada com a defesa da democracia: agora há uma costura a sério pela construção da terceira via. As eleições passaram a ter três candidatos: Jair Bolsonaro, Lula e a terceira via, seja quem for.
Portanto, não se trata de um manifesto por democracia com Lula ou com Bolsonaro. A mobilização teria como objetivo tácito criar as condições para um novo projeto de poder, encabeçado por uma liderança política de fora dos dois espectros que polarizam o país. Toda vez que essas “elites orgânicas” entram no jogo, a prática conspiratória é quase obrigatória no xadrez das articulações com os estamentos republicanos. A história ensina que em decorrência dessa agitação surgirá um programa de governo. Sempre foi assim. Nessas ocasiões, a plutocracia tupiniquim costuma ter um projeto modernizante no bolso do paletó.
Historicamente, não se trata da defesa de um ou de outro regime político, mas apenas da preservação da ordem desejada. A magnitude e as ambições por trás desse projeto podem ser medidas pelos signatários originais do manifesto. Uma boa parte dos figurões que assinaram o documento deve estar agora em alguma sala de estilo inglês, combinando com seus pares os próximos passos. Eles têm a conspiração no DNA. Para dar um exemplo: o principal acionista do Banco Itaú Unibanco, Roberto Setubal. Seu pai, Olavo Setubal, apoiou, financeiramente, as alquimias praticadas para a deposição de Jango. O sócio de “Olavão” no Itaú era o potentado Eudoro Villela, fundador e patrocinador da organização paulista Associação Nacional de Programação Econômica e Social (Anpes), irmã gêmea da carioca Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), comandado por um general cujo pseudônimo era “Gol”.
A Anpes revelaria para o país um jovem gordinho que usava óculos do tamanho de uma tela de televisão. O rapaz foi chamado para ser o secretário executivo da entidade, seu primeiro emprego. Atendia pelo nome do meio, Delfim. Outros tempos; outros propósitos. Posteriormente, “Olavão” participou de forma ativa das campanhas para a deposição da ditadura, que ele próprio havia apoiado anteriormente. Outros signatários do manifesto possuem a mesma pegada genética. O fato é que, enquanto os donos poder ficam, os demais atores institucionais passam. É natural que eles estejam preocupados. Como se sabe, o empresariado e seu círculo de colaboradores íntimos, que chamam a atenção no manifesto, só colocam a cabeça para fora do mar de invisibilidade criado por eles mesmos quando alguma coisa está fora da ordem, está se quebrando. Tudo indica, é o que está ocorrendo. Mãos à obra, pessoal
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