Aos olhos do mercado, o Aqua Capital vive uma espécie de “vai ou racha”. O argentino Sebastián Popik, fundador da gestora, quebra a cabeça para impedir que a grave situação financeira da Agrogalaxy, sua controlada, contamine a própria firma de private equity. Tarefa complexa para quem está indexado a uma das maiores recuperações judiciais do agronegócio brasileiro e a uma dívida superior a R$ 3,7 bilhões.
Popik estaria trabalhando com dois cenários para reduzir a exposição do Aqua à Agrogalaxy – sua participação no capital é de 66%. Uma das hipóteses é buscar um novo investidor, desfazendo-se de uma parcela expressiva das ações. Outro caminho passa pelo processo de recuperação judicial: a conversão de debt em equity, com a transferência do controle da companhia para seus maiores credores, uma lista encabeçada pela Vert Securitizadora, Banco do Brasil, Santander e Citi – o quarteto representa um terço do passivo total da Agrogalaxy.
Ressalte-se que a relação entre o Aqua e os bancos não seria das mais bem azeitadas. Os credores debitam na conta da gestora, acionista majoritária, equívocos estratégicos na administração da distribuidora de insumos agrícolas. Entendem ainda que a Agrogalaxy tardou a revelar ao mercado sua real e frágil situação financeira. Pode ser. Procurada pelo RR, o Aqua Capital informou que “não comenta rumores de mercado”.
O contorcionismo do Aqua Capital não se limita à distribuidora de insumos agrícolas. No mercado, o que se ouve é que a gestora poderá se desfazer de outros investimentos em sua carteira que, por uma espécie de atração gravitacional, já sentem os efeitos da crise da crise da Agrogalaxy. É o caso da empresa de biotecnologia Solubio, também controlada pelo Aqua. Consta que a companhia vinha negociando com detentores de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) o alongamento de uma dívida de R$ 100 milhões. As tratativas foram suspensas assim que a Agrogalaxy entrou com seu pedido de recuperação judicial.
Além dos riscos financeiros concretos, a crise da Agrogalaxy traz uma ameaça de dano reputacional para o Aqua Capital e seu fundador. Sebastián Popik é respeitado no mercado e reconhecido como um excepcional gestor. Conduz o Aqua Capital, fundado em 2009, na ponta do lápis. No ano passado, a gestora, focada no setor agrícola, fechou um dos maiores negócios da sua história ao vender o controle da Biotrop, fabricante de insumos biológicos, para a belga Biobest.
Amealhou 20 vezes o valor investido na empresa. No entanto, os problemas da Agrogalaxy surgem como uma nódoa na imagem do Aqua. A empresa nasceu dentro da firma de private equity, que sempre esteve à frente da gestão do negócio. A distribuidora de insumos agrícolas já está no seu terceiro CEO em menos de um ano. O penúltimo, Axel Labourt, ficou apenas sete meses no cargo – em setembro deu lugar a Eron Martins.