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Alto endividamento é um fio desencapado na venda da AES Brasil

  • 12/04/2024
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A AES encontrou um obstáculo para deixar o Brasil – obstáculo, ressalte-se, que ela própria criou. Segundo o RR apurou, as tratativas para a venda da AES Brasil, conduzidas pelo Itaú BBA, têm esbarrado no alto endividamento da companhia. Os candidatos à compra da empresa estariam se recusando a pagar os R$ 7 bilhões pedidos pela AES, valor considerado elevado vis-à-vis o passivo total da empresa, da ordem de R$ 19 bilhões. Com um agravante: uma dívida com vencimento de curto prazo superior a R$ 9 bilhões, ou 5,3 vezes o Ebitda, um nível de alavancagem mais do que preocupante. Há ainda um segundo agravante: a AES Brasil terá de refinanciar algo em torno de R$ 5,4 bilhões em dívidas até o início de 2025 sob ameaça, caso contrário, de disparar cláusulas de convenants junto a credores. Diante desse cenário, os interessados na compra da AES Brasil, notadamente Auren (Votorantim e a canadense CPPIB) e a China Three Gorges (CTG), têm empurrado os norte-americanos contra as cordas, fazendo pressão por um modelo que reduza os riscos da operação. De acordo com uma fonte que participa das negociações, uma das possibilidades discutidas é atrelar a oferta à repactuação da dívida de curto prazo da AES Brasil. O valor total pago aos norte-americanos seria calculado em cima de metas de alongamento do perfil do passivo. Ou seja: dependendo do êxito da renegociação das dívidas pelo futuro controlador, a AES receberia mais ou menos pelo ativo. Procuradas pelo RR, AES e CTG não se manifestaram. A Auren, por sua vez, disse que “não comenta rumores sobre eventuais processos de fusões e aquisições.”

No mercado, a venda da AES Brasil é considerada uma questão de tempo. E esse tempo será maior ou menor em função da postura da AES. No setor, há um consenso de que os norte-americanos terão de ceder, notadamente em relação ao valuation e à repactuação do passivo, para fechar o negócio. A Auren chegou a apresentar uma primeira proposta à AES – conforme informou o Pineline, do Valor Econômico -, mas a oferta foi rechaçada pelos norte-americanos. Além da joint venture entre os Ermírio de Moraes e a CPPIB e da CTG, a franco-belga Engie e a canadense Brookfield também são apontados no mercado como potenciais candidatos à aquisição da AES Brasil. No entanto, independentemente dos nomes, todos os fios levam ao mesmo problema: o peso da dívida da AES Brasil e o seu potencial de contaminar a estrutura de capital do seu futuro controlador. Por exemplo: no caso da Auren, a relação dívida líquida/Ebitda sairia do nível atual e confortável de 1,8 vez para quatro vezes, com a incorporação da AES Brasil. Já a Engie veria seu nível de alavancagem subir de 2 para 3,5 vezes.

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