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A “independência” de Roberto Campos Neto não faz nada bem ao Brasil

  • 3/07/2024
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Qual a surpresa? Roberto Campos Neto sempre foi um político. Desde o primeiro dia do seu mandato na presidência do Banco Central. No exercício de um dos cargos mais sensíveis da República e com vários protocolos a serem respeitados, Campos Neto foi votar, nas eleições de 2022, com uma camisa da seleção brasileira, símbolo capturado pelo “bolsonarismo”; participou de um churrasco de confraternização com Lula e ministros na Granja do Torto, no dia 21 de dezembro de 2023; e, mais recentemente, no dia último dia 11 de junho, compareceu a um jantar no Palácio Bandeirantes oferecido a ele pelo governador Tarcísio Freitas, nome que encabeça todas as listas de candidatos à Presidência em 2026. Na ocasião, surgiram rumores na mídia de que Tarcísio já teria até sinalizado a Campos Neto que, uma vez eleito, o convidaria para reassumir a presidência do BC. O economista negou qualquer conversa com o governador nesse sentido – uma negativa, por sinal, que só contribuiu para que o assunto tivesse ainda mais repercussão.

No Palácio do Planalto, houve até quem sugerisse mandar uma PEC ao Congresso para modificar a Emenda Constitucional que instituiu a independência do BC. Uma das cláusulas seria algo na linha “O presidente do BC não pode participar de eventos nem promover atos de conotação política, sendo passível de destituição do cargo caso comprovada qualquer infração contrária”. A ideia morreu de morte morrida, até porque o tempo que falta para o fim do mandato de Campos Neto é curto – menos de seis meses. O PT tentou também entrar na Justiça.

Até o fim do governo Bolsonaro, o titular do BC era uma quase unanimidade nos veículos de comunicação. No mercado, nem se fala: oriundo do Banco Santander e dominando a linguagem da área financeira, foi um consenso elevado ao cubo. A recondução de Campos Neto ao cargo chegou até a ser considerada no início da gestão Lula . Mas, como sempre, o futuro é uma incógnita. O neto do Roberto Campos genuíno foi revelando que tinha partido, opiniões que iam além da política monetária e uma incapacidade de se comunicar e livrar-se das birras do presidente da República, que expuseram a face oculta intuída por Lula. Fosse em outro país, talvez Roberto Campos Neto já tivesse sido convocado para depor em alguma instância de poder em razão de suas recorrentes interferências na economia por meio de entrevistas, declarações ou mesmo gestos simbólicos. Há também um excesso de encontros, participações em seminários e reuniões fechadas com instituições do mercado financeiro.

Pois bem, existem evidências na mídia de que há mais de um Campos Neto. É o que mostra um levantamento exclusivo feito pelo RR, com o uso de algoritmo próprio, junto aos 80 maiores veículos jornalísticos do país. O economista ocupou a presidência do BC em 46 dos 48 meses do governo Bolsonaro – de março de 2019 a dezembro de 2022. Nesse período, o monitoramento na mídia indicou 2.035 menções a Campos Neto geradas a partir de declarações e posicionamentos públicos feitos por ele próprio, ou seja, uma média de 44,2 matérias por mês. Talvez por mera coincidência, a exposição de Campos Neto começou a disparar no segundo semestre de 2022, ou seja, com a proximidade da campanha eleitoral. Entre julho e dezembro de 2022, foram 1.472 reportagens baseadas em falas do presidente do BC, uma média, de 245,3 inserções por mês.

A partir de janeiro de 2023, ou seja já sob a presidência de Lula, a presença autogerada de Campos Neto na mídia alcançou números ainda mais representativos. De lá para cá, os 80 veículos analisados pelo RR publicaram 13.521 notas e matérias com base em declarações e entrevistas do economista. Ou seja: uma média de 751,1 inserções/mês.

A favor de Roberto Campos Neto está o fato de que é mesmo difícil comandar a autoridade monetária tendo nos calcanhares um presidente da República tão boquirroto quanto Lula. Para o petista, Campos Neto é o “Judas” do Brasil, e quase todo dia é Sábado de Aleluia. Lula praticamente institucionalizou os ataques ao presidente do BC, desviando constantemente o curso dos mercados com suas declarações. Campos Neto passou a responder do seu jeito, com mais e mais exposição pública e impacto sobre as expectativas dos agentes financeiros. É de se esperar do comandante da autoridade monetária certos cuidados. A independência do Banco Central é inegavelmente um grande avanço. O que não faz nada bem ao país é um presidente do BC tão “independente” assim.

#Banco Central #Roberto Campos Neto

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