Acervo RR

Crônica de um ministro tão frágil quanto granito

  • 2/04/2013
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Guido Mantega é hoje o ministro mais forte do governo, a  medida que “não tem importância”. Ele se qualificou junto a uma presidente peculiar como a sua voz no que diz respeito a  política econômica. Entretanto, nem sempre foi assim. Durante o período de campanha, quando Dilma Rousseff ainda era um “poste”, ela chegou a cogitar o convite a Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e a Nelson Barbosa, secretário-executivo da Fazenda, para o cargo de ministro. Coutinho tirou o corpo fora e enviou recado pedindo para permanecer no BNDES. Já Nelson Barbosa encontrou uma pedra enorme no caminho: o ex-presidente Lula orientou Dilma a não convidá-lo. Nada contra Barbosa. Até porque Lula defende a receita de que a gestão deve ser feita por meio da arbitragem do tensionamento das discussões. Com Dilma, porém, a recomendação seria exatamente o contrário, ou seja, desfazer a dualidade. Isto porque, ao contrário de Lula, a presidente não é de arbitrar, mas de mandar. Mantega seria a opção imbatível, tendo em vista a flexibilidade, seu grande ativo. Mesmo porque, com Alexandre Tombini a  frente do BC, formaria uma dupla gema e gemada. Dito e feito! Com os dois, Dilma assumiu o controle até dos ascensoristas da equipe econômica. Dilma Rousseff concordou com Lula, mas trouxe Nelson Barbosa para sua assessoria econômica no Planalto. O convite para o Ministério, contudo, permaneceu pairando no ar. A essa altura, Barbosa estava mais preocupado em não criar melindres com o também superior Guido Mantega. Consultou Luciano Coutinho e João Carlos Ferraz, vice-presidente do BNDES. Ambos recomendaram que ele não polarizasse com Mantega. E assim foi feito. O ministro é hoje quem vocaliza os assuntos macroeconômicos, e Barbosa, meio que um “ministro do B”, trata das questões da área tributária. Mantega atravessou a rua e encontrou outro semáforo na esquina: o secretário do Tesouro, Arno Augustin, que trabalhou com Dilma no governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul. Tarso Genro o chamou para ser secretário estadual de Fazenda. Dilma, no entanto, o recrutou para o governo federal. Falante, desinibido, articulado, Augustin é quem trata dos assuntos fiscais e de financiamento de longo prazo. Mantega sabe que ele tem interlocução direta com o Planalto. Tolera com altivez e estilo inabalável. De lá para cá, Mantega saiu do cargo uma centena de vezes. Quase caiu para valer em pelo menos duas ocasiões, a mais recente patrocinada pelo empresariado, que tentou inventar Jorge Gerdau no cargo de ministro da Fazenda – ver RR nº 4.521. Mantega, contudo, já tinha se tornado PhD da sua própria situação no governo. Dissiparam-se as dúvidas em relação a sua presença, a  medida que a própria presidente considera a política econômica sua. E só faria sentido a mudança do ministro se fosse para anunciar uma guinada em todas as diretrizes que vêm sendo cumpridas. O que não é recomendável ou provável com um Congresso pouco confiável. Mantega afinou seu discurso com o presidente do BC, toca de ouvido com os ministros do almoxarifado de Dilma Rousseff – Nelson Barbosa e Arno Augustin – e retocou seu relacionamento com a imprensa após a chegada do jornalista Guilherme Barros a  sua assessoria de comunicação. Não sai mais do governo. Quem especular vai perder. Mantega é refém da sua própria fragilidade. Com Dilma Rousseff, isso significa couraça de granito.

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