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Acervo RR
O road show que vem sendo realizado pela equipe econômica e os ministros Gleisi Hoffmann e Fernando Pimentel para atração de investimentos pode responder a uma pergunta que não quer calar no Palácio do Planalto: o relacionamento com o empresariado nacional não exigiria uma postura mais firme do governo? Se os recursos externos vierem, o sucesso é passível da interpretação de que o empresário nativo está reticente em investir por excesso de má vontade. Há quem chame de ideologização. O fato é que essa teoria conspiratória ganha corpo no núcleo do poder. Uma corrente dos assessores de Dilma, aqueles mesmos que o ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros chama de “stalinistas”, considera ter “chegado a hora de cobrar responsabilidades”. Pode ter sido mera coincidência, mas Guido Mantega, no primeiro evento do tour, em Nova York, disse que “alguns empresários começaram a abusar e o governo está atento, podendo rebaixar ou retirar as tarifas sobre as importações” Mantega costuma ser um pouco destrambelhado em suas declarações, mas não é necessário uma visão panorâmica sobre a performance dos investimentos ou sobre a desinibição no aumento dos preços para constatar que, dessa vez, o ministro não delira. Dilma Rousseff tem buscado, ao máximo, seguir as lições de seu mentor, o ex-presidente Lula, acenando com paz e amor, mas superando-o quando se trata de agrados fiscais e creditícios. Se o retorno tem sido pífio, tanto do ponto de vista do aumento do investimento quanto da redução dos preços, não foi por falta de reunião, carinho e dinheiro. A joia da coroa, o orçamento do BNDES, alcançou cerca de R$ 250 bilhões, somados os dois primeiros anos da gestão Dilma. Não existe banco de fomento no mundo com valores como esses colocados a disposição dos empresários – a taxas favorecidas, diga-se de passagem. O Banco Mundial, no mesmo período, teve um orçamento em torno de R$ 200 bilhões (valores convertidos). E foram baixadas tarifas contra importações. E lançados programas de concessões de serviços públicos. E desonerada a folha de salário. E o retorno, que é bom, tem sido fraquinho, fraquinho. Delfim Netto, assessor informal de Dilma, é contra broncas públicas, através da imprensa, mas acha que a presidente deve arrochar nos encontros privados. Ele sempre fez assim. Chamava uma turma representativa do PIB, perguntava o que ela queria para tocar os investimentos e dizia que daria mundos e fundos. Mas, se não houvesse reciprocidade, o que foi dado de mão beijada se desmanchava no ar. Os stalinistas do Planalto acham que o governo, meio que no desespero, vai trocar o bom investimento privado brasileiro por aumento do passivo líquido externo. Se o senso comum é de que o empresário pensa com números e responde ao ambiente de negócios, o “staff bolchevique” de Dilma acusa que não raro eles desastabilizam governos. Defendem que seja feito e divulgado um inventário de tudo o que foi dado ao empresariado. E que seja dada transparência a participação individual dos empreendedores no investimento. Coação seria a palavra-chave. Cruz credo! Dilma teme que um aperto piore a comunicação do governo e o próprio empresário estrangeiro reaja mal ao jogo bruto. Pode ser que tudo não passe de teoria conspiratória. Mas é difícil entender porque o empresariado formador de opinião não sai pela mídia de estandarte em punho defendendo a mão que o acaricia. Sei lá, não sei…
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