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Acervo RR
Não se recomenda a repórteres incautos que perguntem a Dilma Rousseff o que acha sobre o esfolamento das ações do empresário Eike Batista. Primeiro, porque isso não é pergunta que se faça a presidenta da República. E, segundo, porque Dilma pode responder com a mesma agressividade que reservou ao assunto, na semana passada, em conversa com um interlocutor graduado. Disse poucas e boas da performance assassina do mercado, que, em não raras vezes, representa a antítese do interesse nacional. A presidenta visitou in loco os projetos da OGX e da LLX e tem sido informada sobre ambos pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, um entusiasta dos empreendimentos. Não é a toa que o BNDES sempre quis ser sócio em parcela maior dos projetos de Eike e está a postos se o empresário quiser diversificar suas fontes de financiamento. Eike, contudo, escolheu o caminho da chapa quente do mercado de ações e títulos e, por tabela, o jogo bruto da capitalização em um ambiente no qual o parceiro fiel de hoje é o roedor do dia seguinte. São ratazanas dos valores mobiliários, indevidamente deificadas, que levantam suspeições na fronteira da criminalidade. A repetição de um absurdo em determinada conjuntura é um ato covarde capaz de causar dano de difícil reparação sobre valor intangível. Exemplo: ao se ficar repetindo que houve fratura na confiança do mercado, torna-se mais difícil recuperá-la. Outro exemplo: a hipótese de que Eike pode quebrar é tão ilógica quanto amanhã, no café matinal, abrir-se um rombo na camada de ozônio. Talvez seja até mais fácil ocorrer o rombo na camada. Mas a alusão ao risco de quebra, “em algum momento”, saltita, irrequieta, pelas páginas da mídia, atribuída ao indefectível mercado, fetiche de uma fraudulenta realidade que pretende-se elevar a condição de palavra de Deus. Eike é, provavelmente, o empresário mais líquido do Brasil, com uma solvência obsessivamente resguardada. Tem mais de US$ 10 bilhões em caixa. Sua posição vai se tornar ainda mais líquida já neste ano, quando outras empresas, além da MMX e da OGX, começarão a gerar resultados operacionais. Nem a teoria do caos poderia inferir que o conjunto dos seus empreendimentos, avalizados pelos mais rigorosos analistas, passasse, de um minuto para outro, a ser questionado em seus fundamentos. Ou que o empresário que mudou o capitalismo brasileiro viesse a ser condenado por excesso de otimismo. Não existem boas ou más companhias para esses estripadores, mas, sim, opções de compra e venda. Não custa lembrar o funcionamento da teoria dos ciclos em Bolsas de Valores para se entender os riscos da proximidade com o dendrobata. Reza a lenda que há um intervalo mínimo de 10 anos e máximo de 20 anos, no qual o mercado alterna a alta das ações pela baixa. É chamado também de período de troca de bobos. Espera-se que os predadores, quer seja de um ciclo, quer seja de outro, não prejudiquem o interesse nacional.
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