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Acervo RR
A crise financeira da Doux Frangosul virou assunto de Estado. Até então restrito ao Rio Grande do Sul, o problema foi parar nos mais altos gabinetes de Brasília, notadamente nos Ministérios da Agricultura, da Indústria e Comércio e da Fazenda. Tarso Genro negocia com o governo federal apoio para equacionar a delicada situação do frigorífico. Por apoio entenda-se a participação do BNDES, sempre ele, como um agente facilitador da venda da empresa e da consequente repactuação de suas dívidas. Genro entende que o banco deve não apenas financiar a negociação do controle da Doux Frangosul como entrar no capital da empresa, servindo como um duplo avalista capaz de atrair candidatos para a compra do frigorífico. O governador gaúcho já teria sido procurado por pretendentes ao negócio, como a norte-americana Tyson Foods e o Marfrig, que está disposto a ampliar sua operação no segmento de abate de frangos. As duas empresas, no entanto, não querem saber de carne de pescoço. Pedem um bife já moído e mastigado pelo BNDES. Ambas condicionam o investimento a associação com o banco, que daria sua chancela a um plano de reestruturação financeira e de alongamento da dívida da Doux Frangosul. Procuradas pelo RR – Negócios & Finanças, tanto a Tyson quanto o Marfrig informaram que -não comentam especulações de mercado-. Tarso Genro jogou para Brasília a pressão que vem recebendo em suas fronteiras. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) tem cobrado do governador uma posição mais firme e rigorosa em relação a Doux Frangosul. Genro chegou a Brasília com o discurso pronto. Sua principal justificativa para a entrada emergencial do BNDES neste matadouro é o risco de uma crise sistêmica no setor avícola no Rio Grande do Sul. O governador teme uma quebradeira em série dos pequenos e médios produtores de matrizes do estado que fornecem para a companhia. As dívidas se sucedem há mais de dois anos e ameaçam a sobrevivência de um universo de mais de dois mil criadores integrados em todo o Rio Grande do Sul. Entre abril e maio, a empresa conseguiu reduzir o prazo médio de atraso nos pagamentos de 120 para 60 dias. A alegria dos produtores, no entanto, durou pouco. A situação voltou a se agravar no início de junho. Desde então, o prazo médio de atraso na quitação dos contratos já estaria próximo dos 90 dias. O passivo da empresa com os fornecedores cresceu 10% no ano passado e hoje estaria na casa dos R$ 250 milhões.
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