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Gerdau e Usiminas é aço forjado no próprio Planalto

  • 25/03/2011
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Jorge Gerdau está cumprindo missão. A investida da Gerdau sobre as ações dos funcionários da Usiminas e os planos de fusão com a Açominas são apenas da missa a metade. Por trás deste enredo, há um chamamento do Planalto para uma operação muito maior. Para aqueles que se arrepiam com a estratégia do BNDES em criar conglomerados com inserção competitiva no exterior, vem aí mais um capítulo. O projeto do governo é fomentar a associação entre a Gerdau e a Usiminas e criar um agente consolidador do setor siderúrgico não apenas no Brasil, mas, sobretudo, com perspectiva internacional. Juntas, as duas empresas poderiam disputar a compra de empresas no exterior. Um dos alvos seria a Ternium, braço siderúrgico do grupo ítalo- argentino Techint, que também chegou a se candidatar a  aquisição das ações dos funcionários da Usiminas. Juntas, as três empresas formariam um conglomerado com produção anual de 35 milhões de toneladas de aço, plantas no Brasil, Estados Unidos, México, Argentina e Colômbia, e faturamento equivalente a R$ 60 bilhões. Curiosamente, há pouco mais de um mês, a própria Usiminas vendeu sua participação de 14,2% no capital da Ternium. . Para que a associação com a Usiminas seja concretizada, a Gerdau terá de avançar também sobre as ações da Camargo Corrêa e dos Ermírio de Moraes no bloco de controle da Usiminas. No entanto, esta operação não será apenas um acordo entre compadres do baronato empresarial. Toda esta engrenagem tem ainda duas peças fundamentais: o BNDES e a Nippon Steel. O banco entraria na operação com duplo chapéu: como acionista, ingres sando no bloco de controle da Usiminas, e como financiador da própria compra da Ternium ou de outras siderúrgicas no exterior. Os japoneses, por sua vez, cederiam parte de suas ações para o desembarque da Gerdau e do BNDES no controle da siderúrgica mineira. Guardadas as devidas proporções, a Nippon teria uma condição semelhante a  da Mitsui na Vale. A siderúrgica japonesa permaneceria com uma posição estratégica na empresa mineira. A redução da sua fatia societária seria amplamente compensada pela participação em um grupo de porte ainda maior. Mal comparando, seria uma negociação a  la Oi, em que todos cederiam um pouco daqui e dali em nome de uma operação de grande envergadura. Para Jorge Gerdau, este projeto seria a concretização de um sonho. O empresário, que sempre teve complexo por ser chamado de fabricante de vergalhão e arame, entraria no segmento de aços planos. Seria uma promoção de tenente para marechal. Se, na visão do Planalto, a Gerdau deve ser o cavalo vencedor, o páreo já começa com um grande perdedor. A intenção do governo de estimular a associação entre a Gerdau e a Usiminas é um tiro na femoral de Benjamin Steinbruch, que também alimenta a pretensão de comprar a siderúrgica mineira. Como de hábito, o empresário pecou pelo estilo. Benjamin entrou no negócio dando uma tesoura voadora. Comprou participações da companhia em mercado, soltou um comunicado sobre o seu interesse em ingressar no bloco de controle da Usiminas e desdenhou conversar com os japoneses. Não bastasse a ausência de tato, faltou ainda o principal: contar com a simpatia do governo.

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