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Acervo RR
Armínio Fraga tornou-se um personagem de Dante Aligheri. O ex-presidente do Banco Central caminha entre o céu e o inferno. No Paraíso, é economista laureado, incensado como gestor de fundos, eterno darling da mídia e nome cotado para voltar ao comando do BC em um eventual governo de José Serra, entre outros tantos salamaleques. Mais abaixo, seguindo o curso do Rio Aqueronte, Armínio ressurge como presidente do Conselho de Administração da BM&F Bovespa, chapéu com o qual tem acumulado uma série de derrotas. O projeto Brain, do qual foi um dos principais artífices, submerge em águas turvas. Se Dilma Rousseff confirmar sua vitória nas eleições presidenciais, o Brain vai bater lá no fundo do rio. A pretensão de transformar São Paulo em uma grande praça financeira não sensibilizou empresários, o governo e a mídia e acabou se desmanchando no ar. Sob a condução do barqueiro Caronte, a travessia de Armínio Fraga se aproxima de mais um percurso incinerador de ideias. A proposta de reformulação das regras do Novo Mercado tem esbarrado na forte resistência das companhias abertas. Na visão das empresas, a BM&F não teve a menor delicadeza na condução dos processos e, desde o início, tentou arrancar as mudanças a fórceps. Resultado: as companhias rejeitaram a reforma do Novo Mercado e uma nova votação foi aberta no início deste mês. O risco de mais uma recusa é significativo. Grande parte do débito vai pesar no costado de Armínio Fraga, que se empenhou pessoalmente na tentativa de angariar apoio a s novas regras. E vem mais notícia ruim por aí. Quando alçado ao Paraíso, o arcanjo Armínio Fraga é costumeiramente sinônimo de credibilidade e boa ventura. A performance ao lado de George Soros, bem menos vitoriosa do que foi propalado, os resultados sofríveis de alguns dos fundos do Gávea ou a dolarização da dívida pública ao fim de sua passagem pelo BC sequer mancharam o terno de Armínio. Mas o rio na terras de Hades é um oceano. Já é possível ver Armínio navegando sobre um inferno cambial. No momento, o alto-comando da BM&F tenta convencer o governo a autorizar o depósito no exterior dos R$ 20 bilhões em garantias dos contratos de derivativos de investidores estrangeiros. O objetivo é deletar o aumento da alíquota do IOF, uma punição ao uso do mercado futuro de dólar como uma arena para manipulação cambial. Os contratos afetados pela medida representam quase 7% da receita da Bolsa. Mas Armínio segue remando, inatingível, divinal. Chega a dar até medo.
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