A banalidade é do mercado ou da política?

  • 7/04/2015
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frente ao monólito arquitetônico com coloração e reflexos do ônix, na 52nd Street, em Nova York, onde se encontra incrustada a gestora de recursos BlackRock, o financista Michael Bronfman tiritava de frio aguardando uma condução. Vinha de um chat oportunista sobre Brasil e Rússia, disfarçado de shoot the breeze (bate-papo sem nenhuma intenção) com os “piranhas” do BlackRock. Ossos do ofício. Bronfman, que se perfila entre os marketing makers, é também da família dos “piranhas”. Contudo, está mais para uma tilápia decorativa se cotejado com a elite dos grandes predadores. Perguntado de bate-pronto para onde vamos, Bronfman pestanejou. Tinha vindo falar sobre a análise fundamentalista de algumas empresas, sem aquela pretensão de economiapolítica. Mas não resistiu ao segundo assédio. Segundo ele, os fundamentals da economia brasileira pioraram sim, mas devido ao ataque maciço dos políticos contra as expectativas de melhoria . A classe política é atavicamente uma matilha com vocação destruidora, mas, no caso brasileiro, isso se hiperbolizou. É como se oposição e situação se juntassem em um esforço para criar uma percepção de piora, cada qual com seu dialeto: a oposição, com um discurso venal; e a situação, desfiando um novelo de mentiras. Cenário perfeito para a vinda dele, aquele que nos trará a concórdia conceitual, o óbvio ululante. O Brasil está vivendo uma inflexão nesse negativismo profissional com a entrada em cena de Joaquim Levy, o prenunciado. De acordo com Michael Bronfman, assim como as marés o país inviável se tornará muito palatável. Uma prova que a “crítica racional” a  política econômica é bipolar e precisa de tratamento como qualquer psicótico. Bronfman diz que a comparação entre Brasil e Rússia só pode ser feita nos Gulags. O Brasil tem um mercado interno estruturalmente pujante; a Rússia, não. A dependência dos russos de quase exclusivamente uma mercadoria na sua pauta de exportação se cala frente a  variedade de commodities em que o Brasil domina o mercado. E a indústria? Aí, segundo Bronfman, dá empate: a de ambos africanizou. O resto é sol, é mar, é água e mata verde. Quanto a  afirmação de que o Brasil só cresceu recentemente devido ao boom das commodities, Bronfman responde, sarcástico, que crescemos mais de quatro décadas a 9% em média ao ano devido igualmente a externalidades favoráveis combinadas com aberrações da razão crítica na economia. Um Lincoln preto dobra a curva e para em frente ao nosso interlocutor, que elogia o RR antes de entrar no veículo. Perguntamos se visitará o Brasil. Diz que não tem planos. Vai continuar acompanhando o país da corretora. Mas aposta em qualquer mercado futuro que o Brasil se resolve rápido se a euforia maníaca da política assim o deixar.

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