Sob a bênção e a inspiração de Ignácio Rangel

  • 2/04/2015
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Essa fica na cota de um economista carioca próximo da equipe econômica, mas que mantém discrição em relação a esta intimidade: o governo precisa temperar o ajuste fiscal com um pacote de desmobilização de ativos públicos. A medida tem pelo menos dois bons motivos. O primeiro, mais prosaico, é que a desmobilização ajudaria no alcance da meta fiscal. Com o reforço das verbas decorrentes da alienação patrimonial, o target poderia – quem sabe? – ser superado, glória das glórias. O segundo motivo seria de caráter psicológico. A demonstração de que o governo não está somente disposto a fazer o corte linear de despesas – o chamado corte “burro”, que acaba atingindo mais os investimentos, devido a  proteção constitucional de alguns custos e engessamento de outros – seria uma sinalização e tanto. O ajuste fiscal levaria em conta a privatização e a venda de ativos da União. Muito já foi dito sobre essas joias da coroa: ações da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Embrapa, algum percentual da carteira do BNDESPar, direitos minerais, usinas nucleares, investimentos imobiliários. Nos exemplos mais agudos de risco político, seria garantido o controle nacional, quer seja através da manutenção de 51% do capital, quer seja pelo uso da experiência bem-sucedida da golden share. Uma questão que surge é o tempo exíguo para que se monte uma operação dessa magnitude. Sim, o tempo é justo, o que só valorizaria a disposição do governo em fazer um ajuste metade sangrento, metade cicatrizante, com um fortíssimo apelo na formação de expectativas favoráveis. Caberia a  Fazenda e ao Planejamento montar forças- tarefas para a precificação e desenho do modelo de alienação dos ativos. Pode ser que não haja mais uma sumidade como José Luiz Bulhões de Pedreira disponível na praça, mas tem muita gente boa que daria conta do desafio. O tal espírito animal seria desperto, os investimentos cresceriam, o ajuste fiscal ocorreria de forma menos áspera, as empresas se beneficiariam de um entrelaçamento maior com o setor privado e Levy sairia consagrado. Há muito de idealização nessa proposta e suas conclusões. Mas o autor garante que ela teria de estar na mesa de discussões do governo. Afinal, novidade é a mercadoria mais escassa da nossa política econômica.

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