Igreja Católica tenta reconstruir as pontes com o Poder

  • 15/03/2019
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A Igreja Católica está voltando ao game devagarinho. Tem feito movimentos ainda tímidos, porém perceptíveis, no intuito de reagir à perda de representatividade institucional junto ao Poder. O contraponto é o crescente espaço de influência política dos evangélicos, que ganhou tonalidades mais fortes com a ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência. Um gesto emblemático dos católicos foi o Banquetaço Nacional do último dia 27 de fevereiro, organizado pela Cáritas, braço social da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O evento em 27 cidades brasileiras surgiu como uma resposta à edição da MP 870 e à consequente extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, entidade civil que prestava consultoria à Presidência da República. Perguntada se o Banquetaço Nacional foi um ato de caráter político, a CNBB não se pronunciou. A cúpula da Igreja Católica tem emitido outros sinais que apontam para um projeto de resgate do seu espaço no cenário institucional e político. Desde já, as atenções se voltam para o Sínodo da Amazônia, reunião do episcopado católico marcada para outubro, no Vaticano.

O próprio governo deu sua contribuição para colocar foco sobre o encontro, transformando-o praticamente em questão de segurança nacional. Recentemente, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) publicou nota confirmando que “existe a preocupação funcional com alguns pontos da pauta do Sínodo”. Na ocasião, o general Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI, negou que a Igreja Católica seja “objeto de qualquer tipo de ação da Abin”, mas deu a entender que a reunião de outubro está no radar do aparelho de Inteligência. A reação mais contundente da Igreja Católica veio na voz do bispo da Prelazia de Marajó, dom Evaristo Spengler, que classificou a movimentação do governo como “um retrocesso que só vimos na ditadura militar”.

Consultada, a CNBB também não quis comentar a declaração de dom Evaristo. Talvez a Igreja Católica jamais tenha enfrentado uma circunstância tão inóspita do ponto de vista institucional. O Estado é laico, mas o governo Bolsonaro sabidamente tem suas preferências. Os evangélicos formam uma das bases de sustentação eleitoral do Capitão. A Bancada da Bíblia, um istmo das congregações pentecostais no Legislativo, é um dos principais esteios de Bolsonaro no Congresso. O discurso moralista e a agenda dos costumes galvanizam essa relação de fé e pragmatismo.

O presidente e os seus enxergam a Igreja Católica como antiga aliada do PT e de causas identificadas com o campo da esquerda. A bandeira dos direitos humanos e a defesa de grupos específicos de interesse, como ambientalistas e indígenas, são vistas pelas hostes bolsonaristas como pontos de simbiose entre católicos e o esquerdismo. No governo, há um receio de que o episcopado brasileiro aproveite a visibilidade internacional em torno do Sínodo da Amazônia para desfiar um rosário de críticas às políticas da gestão Bolsonaro nas áreas social e ambiental. Por esta razão, há, desde já, movimentos no sentido de desconstruir o encontro no Vaticano. O presidente Bolsonaro e sua claque evangélica tentam impingir ao Sínodo uma imagem depreciativa, comparando-o, inclusive, ao Foro de São Paulo.

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