Estado de vigília com a “Operação Próxima Vítima”

  • 25/02/2016
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  A “higienização” promovida pelo Judiciário está criando um clima de pânico no meio empresarial. O RR conversou com um dos participantes de uma reunião realizada em São Paulo entre potentados do setor privado – o encontro contou também com a presença de um ex-ministro do STJ. O sentimento dominante, segundo a fonte, é que o empresariado, de antemão, já foi criminalizado. O informante abre o jogo: “Tendo em vista as relações tradicionalmente incestuosas com o setor público, as empresas privadas, com raríssimas exceções à regra, podem ser enquadradas em alguma malfeitoria.”  A indignação maior é com a fragilização dos mecanismos de defesa: “É como se o Judiciário tivesse ampliado seu direito dentro do estado de direito.” O recurso recorrente da delação, a extrapolação do instrumento da prisão preventiva e o vazamento de informações de processos que correm em segredo de Justiça seriam exemplos do novo regime em vigor. A priori, seguindo a linha de raciocínio da Lava Jato, todos os empresários já estão condenados pela simples suspeição. Por este fato, vivem em permanente expectativa sobre quem será a próxima vítima. A convicção é que a volúpia criminalizante transbordará da construção pesada para outros setores da economia. De acordo com a fonte, a sensação é de que não existe chão debaixo dos pés: “No passado recente, era ainda uma boa paranoia se pensar que o processo estava condicionado a uma disputa ideológico-partidária no epicentro do poder. Hoje, não restam mais dúvidas de que o Judiciário não está nem à esquerda nem à direita, e, muito menos, em conformidade com o histórico de suas ações no país.”  Há concordância de que os ilícitos relacionados à Petrobras fugiram a qualquer parâmetro anterior. Ocorre que o caso, muito embora a sua excepcionalidade, estendeu a todo o setor empresarial a dúvida quanto à probidade de seus atos. In dubio, corruptum est. A resultante são ameaças veladas de desinvestimento, fuga de capitais, desemprego, colapso de segmentos inteiros da indústria etc. Essa reação ao risco jurídico se dá em um péssimo ambiente econômico, o que acaba potencializando seu efeito destrutivo sobre o “espírito animal” do empresário (Apud John Maynard Keynes).  É compreensível o mal-estar dos empresários com essa nova combinação de fatos. Contudo, não há como justificar à luz do dia práticas como caixa 2, tortuosos financiamentos de campanha, contas invisíveis no exterior etc. Quem tomou o risco desses procedimentos para maximizar seus lucros que assuma as consequências – não custa lembrar que “lucro” vem da mesma raiz que a palavra “logro”. Mas alguma coisa se quebrou. Esse medo compartilhado pelo empresariado não tem precedente. As reuniões vão continuar, garante a fonte do RR.

#Lava Jato

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