Crônica do “não vai nem vem” da renda mínima

  • 26/10/2017
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A reintrodução do debate sobre a renda básica pelo FMI é uma confissão de que a pobreza resiste às políticas convencionais de combate. O tema prima pela sua circularidade. Desconhece-se também quem é o pai da criança. O FMI se resume a revelar seus cálculos, pelos quais a distribuição de 4,6% do PIB reduziria a pobreza brasileira em espetaculares 11%.

As demais derivações, portanto, ficam por conta de economistas, historiadores e jornalistas. Exemplos pitorescos: F.A. Hayek e Milton Friedman, os dois economistas mais liberais da história, ambos defensores da renda básica, disputam quem levantou primeiro a bola. Friedman, em entrevista a Eduardo Suplicy – o mais obcecado defensor da renda mínima do universo – justificou o escorregão à esquerda, explicando que a “medida teria como objetivo substituir outras ações assistencialistas dispersas”.

Antes dos dois ícones do liberalismo, contudo, o escritor Thomas Paine antecipou-se à discussão do imposto de renda negativo e lançou pela primeira vez o termo renda mínima. No Brasil, o primeiro economista a levantar essa bandeira foi o pouco lembrado e saudoso professor Antônio Maria da Silveira, uma espécie de “Ignácio Rangel distributivista”. Antônio Maria, um estranho no ninho da EPGE-FGV, foi o responsável por incutir a ideia nas cabeças de Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque.

O onipresente John Maynard Keynes arranhou o assunto. No texto “Sobre as possibilidades econômicas para nossos netos”, escrito em 1930, previu que em 100 anos todos teriam um renda básica para suas necessidades essenciais, portanto em 2030 todos teriam subsistência garantida – dependendo, é claro, de fatores acidentais como guerras e revoluções. Keynes não pensou em desastre ecológico, revolução digital e outras modernidades, mas o insight redistributivista parece ser ainda mais aplicativo quanto maiores forem os percalços. Por aqui, ficamos com o Bolsa-Família, que é um arremedo criativo. Mas é bom que o Fundo Monetário traga o assunto à tona.

#FMI #PIB

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