Conselho Monetário Nacional empurra redução da meta de inflação para a campanha eleitoral

  • 27/06/2018
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O Conselho Monetário Nacional (CMN) achou por bem intervir no governo prestes a se iniciar e criou um fato mais político do que monetário, na reunião de ontem: reduziu a meta de inflação para 3,75%, em 2021. A medida não tem impacto na inflação do curto prazo – pressionada pela paralisação dos caminhoneiros -, e pouco altera as expectativas, já que o Banco Central não é formalmente independente e daqui a seis meses terá outro presidente, com poder para detonar o novo centro da meta. Mas sinaliza para uma até
então improvável elevação da Selic na próxima reunião do Copom, que ocorre nos dias 31 de julho e 1o de agosto.

Os juros poderiam subir de 6,5% para 6,75%. O BC em seu último comunicado deixou aberta essa possibilidade, ao não se pronunciar sobre nenhum caminho. Os juros futuros projetam 69% de probabilidade desse cenário acontecer. As chances da Selic aumentar para 7% seriam de 31%, ainda de acordo com o mercado futuro. Ilan Goldfajn e seus bluecaps vêm promovendo reduções consecutivas da meta inflacionária. O objetivo anunciado é trazer a meta para 3%, que seria o padrão internacional.

A proposta foi devidamente metralhada por economistas pesos-pesados. O argumento contra a mudança é que o patamar mais baixo poderia instar mais facilmente o BC a levantar os juros. O melhor para o manejo das políticas fiscal e monetária seria a manutenção da meta atual de 4,5% até 2021 – o governo já tinha alterado esse percentual para 4,25%, em 2019, e 4%, em 2020. Para Ilan, um conservador exacerbado, o preço de esticar o elástico do inflation target vale a pena. A medida é uma resposta de Ilan à corrente contrária, que torce por um pouco menos de juros e um tiquinho mais de inflação, dentro da faixa de tolerância, é claro.

O grupo pró-inflação quase que festeja a greve dos caminhoneiros. A paralisação e o câmbio puxarão os preços um ponto percentual para cima – a taxa anualizada deverá ficar em torno de 4%, talvez um pouquinho mais – o que ajudará a equilibrar as contas públicas, ainda que de forma farisaica. Mas a atividade produtiva sofrerá na carne e o desemprego mais uma vez pagará o pato da história.

Menos juros teria mitigado essa parte mais sofrida.Ilan Goldfajn voltará para casa com a dúvida dolorosa de que poderia ter poupado milhões de empregos se não fosse tão renitente com a Selic alta quando a inflação já embicava para abaixo do piso da meta, um mergulho enxergado por todo o mercado. Ah, mas o presidente do BC poderia dizer que sua política de austeridade com os juros e a obsessão com uma inflação demasiadamente baixa permitiram enfrentar uma repentina pressão sobre os preços sem que ter de elevar os juros. A próxima reunião do Copom dirá se o argumento é honesto e de boa cepa. Por enquanto, o que existe de mais concreto são os 12,5% de desemprego,cevados com uma política monetária de arrocho. É com esse número de desesperados que Ilan terá de dormir todas as noites.

#Banco Central #Ilan Goldfajn

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