Carta aberta à diretoria do BNDES

  • 5/01/2017
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Uma dica para a megacompetente diretoria do BNDES em 2017: apoie a indústria, porque ela precisa. Não se sintam melindrados porque alguns dirão que essa guinada estratégica representa um retorno ao passado. Quem retornou ao passado e de lá precisa ser içado de volta para o futuro é o setor secundário da economia. É a indústria que emula a formação do melhor capital humano do país. É a indústria, o berço da esmagadora maioria das inovações. É a indústria que agrega valor às exportações.

O BNDES tem se preocupado muito com os atributos dos projetos que financiará – meio ambiente, impacto social, geração de divisas etc. Está correto. São condicionalidades transversais a qualquer que seja a política de empréstimos da instituição. O RR chegou a sugerir diretamente ao ex-presidente Luciano Coutinho que todo projeto fosse acompanhado de um relatório sobre o retorno propiciado à sociedade. Infelizmente, a proposta não foi acolhida. Mas a obsessão pela horizontalidade da política de financiamento preocupa, assim como a definição ainda imprecisa do que são “bons projetos” – pelos critérios do Bird? Do JP Morgan? Do Itaú? O foco em um setor não é nenhum pecado, principalmente quando ele representa a referência do maior ou menor estágio de desenvolvimento da economia.

Na década de 80, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a participação da indústria de transformação no PIB alcançou 21,6%. Em 2015, desabou para cerca de 11% do PIB, voltando ao patamar de 1947. Em 2016, a expectativa é de que o setor tenha mergulhado ainda mais fundo, situando-se em torno dos 9% do PIB. Com um detalhe: a participação do componente importado na indústria de transformação não para de subir. Em 2003, era de 16,5%; em 2015, passou para 23,6%. É simplesmente pavoroso! De todos os setores do PIB só a indústria mergulhou no precipício. O recado do RR para a diretoria do banco segue a linha da provocação. Que, em 2017, ela não se esqueça de que o banco é de desenvolvimento e não de investimento; o BNDES não deve nem pode se transformar em “BTGndes”.

Obs: Aliás, por que cargas d ´água o BNDES investe e tanto se ufana em possuir uma carteira de participações em bancos?

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