Calmon de Sá colhe sua última safra de cacau

  • 8/06/2016
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 A saga dos coronéis no ciclo cacaueiro contada por Jorge Amado, que reúne nomes como Frederico Pinto, Horácio da Silveira e Sinhô Badaró, provavelmente incluiria mais um personagem se a vasta prosa do escritor pudesse ter seguido o rastro imortal do tempo. O candidato ao enredo literário é o octogenário Ângelo Calmon de Sá, famoso nacionalmente por sua atuação como político e banqueiro. Ângelo, conforme é chamado na Bahia, desfilou arrogância e subserviência durante 21 anos do regime militar de 1964 e ficou para sempre conhecido por ter protagonizado a quebra do Banco Econômico, à época um dos maiores do país. O ex-banqueiro é um coronel do cacau tardio a um passo de deixar para trás uma empreitada que nunca lhe disse a que veio. Ângelo sempre foi o banqueiro. Mas agora é o fruto relegado que pode ajudá-lo a ter algum descanso no crepúsculo amargo da vida, quando o engolfam as dívidas e o desamor daqueles que jogou na rua do desemprego. Ângelo é o controlador da Cacau Cantagalo, líder nacional no segmento e proprietária de 15 fazendas na Bahia, com capacidade de produção de 100 mil arrobas do fruto.  O coronel banqueiro age como se não estivesse há 20 anos respondendo na Justiça pela insultuosa falência do Banco Econômico, com um rombo avaliado em R$ 16 bilhões. Ângelo aproveitou a brecha do desbloqueio de seus bens, obtida junto ao Judiciário, e colocou à venda a companhia cacaueira por um valor que, segundo especialistas, pode chegar a R$ 500 milhões. A principal interessada é a Olam, com 25% do mercado de moagem de cacau no Brasil e dona de uma fábrica em Ilhéus. O grupo de Cingapura é o maior produtor da Ásia, fatura US$ 20 bilhões ao ano e tem operações em 65 países. Se fechar o negócio, passará a ter metade do mercado brasileiro e 60% das exportações de cacau do país. As conversações estão sendo entabuladas por Ângelo Calmon de Sá Júnior, filho do ex-banqueiro e um dos sócios da Cantagalo. Da rede em que se embalança, o patriarca acompanha o negócio em curso. Está chegando o fim da estação. As seguintes empresas não se pronunciaram ou não comentaram o assunto: Olam e Cantagalo.

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