Atentado contra Bolsonaro encurta a ponte entre militares e as eleições

  • 10/09/2018
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A reunião do Alto Comando do Exército, realizada na última quinta-feira sob a comoção do atentado contra o candidato Jair Bolsonaro, teve uma participação excepcional de dois oficiais quatro estrelas da reserva, os generais Hamilton Mourão e Augusto Heleno. Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, comandou as tropas do Sul do país, consideradas as maiores das Forças, até 2016, quando foi retirado do posto, preventivamente, pelo Comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, devido a declarações ameaçadoras feitas no Dia do Soldado. general Heleno liderou as tropas de paz da ONU no Haiti e defende que se trate os criminosos como inimigos de guerra, fuzilando-os imediatamente.

Os dois expoentes do Estado-Maior de Bolsonaro não estiveram de corpo presente na reunião extra no Forte Apache, mas, sim, por meio de contatos diversos com o generalato, contribuindo com subsídios para a análise da situação. É desnecessário, por previsível, carregar nas tintas sobre o grau de excitação do momento. Mourão e Heleno até ontem, pode se dizer assim, pertenciam ao Alto Comando da Força. Algo comum que mantivessem contato intenso com seus pares na grave circunstância.

Por tendência natural, as conjecturas dos militares percorrem perímetros largos em torno do estado de saúde do candidato. Eles prospectam riscos psicossociais, entre os quais o país tornar-se um caldeirão fervente, o que poderia levar, em hipótese extrema, até ao adiamento das eleições. Todos os cuidados devem ser tomados para que a situação não se radicalize. A militância de Bolsonaro não é o que pode se chamar de mansa. E violência gera violência, um velho clichê de atualidade eterna. Nunca o país viveu uma conjuntura política tão odienta.

O manejo de arma branca, a própria expressão “facada”, a despeito das motivações serem de fundo religioso, trazem inusitados componentes, real e simbólico, de uma violência aguda. O psiquismo da sociedade já se manifestava com fúria inaudita nas redes sociais. Faltava transbordar da internet para o mundo físico. Transbordou. Um cenário considerado pouco provável passaria pela caserna, ainda que apenas tangenciando-a; seria um estado mais preocupante de saúde de Bolsonaro que o levasse a permanecer até depois das eleições em unidade de terapia intensiva – hoje, este não é um quadro provável, mas não é absurdo.

Digamos que o capitão, mesmo na UTI, fosse eleito. Nessa hipótese, há dúvidas se o seu vice-presidente, o general Mourão, assumiria na condição de interino, ou seria empossado diretamente como titular da presidência, na medida em que Bolsonaro não pudesse comparecer à cerimônia de diplomação. E se, mesmo diplomado, Jair Bolsonaro fosse impedido por um tempo mais prolongado de governar o país? O cenário seria parecido: Mourão, autor das frases mais intimidadoras da democracia, assumiria definitivamente a Presidência da República. Mesmo que a recuperação do capitão seja breve, o ambiente psicossocial permaneça sob controle e as eleições ocorram sem turbulências, como a população deseja, o fato é que a agressão a Bolsonaro é, desde já, a facada que mudou o rumo da história.

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