PIX do BC ameaça criar um monopólio estatal

  • 22/06/2020
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O ex-governador do então estado da Guanabara Carlos Lacerda, em uma das suas impagáveis tiradas, dizia que Roberto Campos, à época ministro do Planejamento do governo Castelo Branco, queria matar os pobres de fome e os ricos de raiva. Descendente da mesma linhagem, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, parece querer matar os bancos comerciais com frouxidão regulatória e concorrência predatória. Ressalte-se que a concorrência mais assustadora não vem
da epidemia do “coronatech”, mas do “ultraliberalismo estatizante” do próprio governo. Sem um debate maior com sistema financeiro, o BC criou o “big banco” – em uma referência ao Big Brother, clássico do escritor George Orwell. Trata-se do PIX, uma empresa de meio de pagamento, na sua mais resumida definição.

O PIX é uma plataforma que promete transferir valores em até 10 segundos e funciona 24 horas por dia e sete dias por semana. O BC disponibilizará esse serviço para todas as instituições financeiras com mais de 500 mil clientes – são palavras da própria autoridade monetária. Vai passar o rodo em todos os bancos médios e nos novos animais digitais carnívoros da floresta financeira. A questão é que o PIX vai abranger – e diga-se por enquanto – praticamente todas as operações: pagamento
de contas, boletos, recolhimento de taxas de serviços (a exemplo da emissão de passaportes) e impostos. O aplicativo precisa somente da chave de endereçamento para transferir os valores.

Os bancos estão incomodadíssimos porque, com sua vantagem comparativa, o BC poderá, em futuro
breve, fazer todo o sistema de pagamentos do país. E bem pior ainda: estender sua malha de atuação para outras áreas, tais como concessão de crédito, depósito bancário etc, atividades fim e, por definição, exercidas pelos grandes bancos. Lembra de forma impressionista o monopólio para compensação de cheques exercido pelo Banco do Brasil em tempos jurássicos do sistema financeiro.

O PIX é a maior, mas não é a única ameaça à solidez do sistema bancário nacional e sua rede social.
O BC é um associado benemérito de todas as iniciativas concorrenciais com a banca comercial, uma
nuvem de gafanhotos que vai da nova ferramenta de pagamentos do WhatsApp, lançada na última
semana, à revoada de fintechs que não param de entrar no mercado. Ninguém discute que as big techs chegaram para ficar. O que chama atenção é a leniência do BC com as assimetrias competitivas no sistema financeiro e o seu descompromisso com o papel social do setor.

A banca comercial gera mais de meio milhão de empregos diretos e aproximadamente um milhão
de indiretos. Recolhe mais de R$ 70 bilhões em impostos por ano. Investe algo em torno de R$ 25
bilhões em tecnologia a cada ano, fora gastos com agências, fornecedores, segurança etc. Uma unidade bancária alvo de explosão, por exemplo, custa R$ 600 mil para ser reconstruída – criminosos mandam pelos ares mais de dois mil caixas eletrônicos por ano.

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