Mabe deixa uma cilada para os seus credores

  • 23/08/2016
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 A quebra da Mabe Brasil, ao que tudo indica, vai muito além de um episódio clássico de falência, causado por condições econômicas adversas ou mesmo má gestão do negócio. Os credores, fornecedores e os quase dois mil funcionários da fabricante de eletrodomésticos têm todos os motivos para acreditar que foram vítimas de um golpe empresarial. Segundo informações obtidas junto a um dos bancos, assim que as fábricas de Hortolândia e Campinas pararam de produzir, em dezembro do ano passado, os mexicanos da Mabe simplesmente sumiram do mapa. Todos os executivos de primeiro escalão enviados pela matriz voltaram para a Cidade do México. Deixaram para trás banqueiros sem resposta, trabalhadores sem salários, estoques quase zerados, um sem-número de queixas nos órgãos de defesa do consumidor, acordos não cumpridos com a própria Justiça e uma espessa nuvem de fumaça em torno das informações administrativas e financeiras da companhia. Segundo o RR apurou, a 2ª Vara Judicial da Comarca de Sumaré, onde corre o processo de falência, vem tendo dificuldades para localizar os antigos gestores da empresa e enviar ofícios e notificações de praxe.  Segundo sentença da 2ª Vara Judicial, os mexicanos não honraram uma série de itens do plano de recuperação judicial. Não pagaram todos os credores trabalhistas e tampouco quirografários. A Mabe Brasil tornou-se figurinha carimbada nos cartórios de São Paulo: de acordo com certidão expedida pelo 1° Tabelião de Notas e Protestos de Letras e Títulos de Sumaré, a empresa soma 2.234 protestos. Não restou outro caminho à Justiça: a companhia teve sua falência decretada em 10 de fevereiro. A partir de então, os administradores da massa falida se depararam com uma caixa-preta. Segundo a fonte do RR, os dados financeiros e operacionais da empresa estavam incompletos. Os relatórios de estoques de matéria-prima, peças de reposição e mercadorias não batiam com a realidade dos fatos. Os mexicanos também não forneceram aos administradores judiciais os documentos exigidos e tampouco cumpriu a decisão da Justiça, que havia determinado a verificação inversa dos créditos devidos. Entre os bancos, fornecedores e funcioná- rios, tais fatos só reforçam a convicção de que a Mabe agiu deliberadamente com o intuito de passar a bola entre as pernas dos credores.  O que mais causa perplexidade neste enredo é a dimensão do seu protagonista vis-à-vis o tamanho do passivo em questão. Como é possível que um dos maiores fabricantes de eletrodomésticos da América Latina, com um faturamento superior a US$ 4 bilhões, não se disponha a honrar uma ninharia de aproximadamente R$ 50 milhões, montante das dívidas incluídas no processo de recuperação judicial? Simples, diriam os mexicanos: talvez porque a Mabe não seja da Mabe. Entenderam? Segundo o RR apurou, consultada recentemente pela Justiça brasileira, a Mabe México informou ter apenas uma participação minoritária na Mabe do Brasil, “portanto, sem controle sobre as decisões da organização”. E na porta de quem, então, os credores devem bater? Segundo o contrato social, a companhia pertence a três empresas: Mabe Mercosur Participações Ltda, Cocinas Mabe S/A e Exinmex S/A. A primeira está registrada em Campinas. As duas últimas, vejam só, ficam no mesmo endereço da sede da Mabe na Cidade do México. • As seguintes empresas não retornaram ou não comentaram o assunto: Mabe.

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