As relações perigosas do governador João Doria

  • 26/12/2018
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Se João Doria pretende seguir à risca a máxima da mulher de Cesar, não apenas sendo, mas também parecendo honesto, é provável que ele tenha de fazer algumas escolhas já no início do seu mandato. Antes mesmo de sua posse, o futuro governador tem sido alertado por assessores sobre o risco potencial embutido em antigos vínculos pessoais e empresariais. São relações que caminham no fio da navalha entre o público e o privado. Uma das ameaças à reputação da gestão Doria atende pelo nome e sobrenome de Sergio De Nadai. O empresário é amigo pessoal do governador eleito e, até o último dia 12, era presidente do Lide Solidariedade, o braço social do Grupo Lide, fundado por Doria.

De Nadai é dono da Convida Refeições, que já teria fechado mais de R$ 100 milhões em contratos com o governo paulista e hoje presta serviços para três das Secretarias do estado: Educação, Saúde e Planejamento e Gestões. Foi citado nas investigações sobre o suposto desvio de recursos públicos no fornecimento de refeições para a rede pública de ensino de São Paulo no governo Alckmin, que ficou conhecido como “Escândalo da Merenda”. Acordos de prestação de serviços da Convida Refeições com o governo paulista vencerão durante a gestão Doria.

É o caso do contrato 02/2018, com a Secretaria de Educação, que envolve “Manipulação de alimento e preparo de refeições para a distribuição aos alunos da rede pública estadual”. No valor de R$ 5,5 milhões, expirará em julho de 2020. Por meio da assessoria de imprensa da Convida Refeições, Sergio de Nadai confirma a relação de amizade com João Doria. A empresa diz que é “membro associado do Grupo Lide, mas não faz nenhum apoio aos eventos deste Grupo.” Consultada sobre os serviços prestados em São Paulo, a companhia diz que “as informações sobre seus contratos são sigilosas e não é procedimento da empresa divulgar valores”.

A Convida confirma que é “fornecedora do Governo do Estado de São Paulo, entre outros clientes do setor público.” Recentemente, a companhia de Sergio De Nadai teve seu nome envolvido em outro episódio rumoroso. Graças a uma liminar, a Convida ganhou uma licitação da Petrobras no valor de R$ 324 milhões para fornecer serviços de alimentação em plataformas da estatal. No entanto, a própria petroleira tenta anular a concorrência na Justiça. A Petrobras alega que a empresa não cumpriu os requisitos e não se enquadrou ao seu programa anticorrupção.

Em relação à estatal, a empresa de Nadai diz que “não tem como procedimento comentar sobre questões judiciais referentes a processos de licitações, e enfatiza que seu Grau de Risco de Integridade (GRI) perante a Petrobras está adequado e dentro da normalidade”. Outro caso que provoca apreensão entre os assessores de João Doria é o da Gocil Segurança e Serviços. A empresa mantém um contrato com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo, no valor de R$ 48 milhões. O aditivo em vigor expirará em 13 de julho de 2019, quando o governo paulista poderá estender o contrato mais uma vez ou realizar uma nova licitação. A Gocil é parceria do Grupo Lide.

Na primeira semana de novembro, a empresa de vigilância foi uma das patrocinadoras do 23o Meeting Internacional realizado pelo grupo em Cusco, no Peru. O dono da Gocil, Washington Cinel, também é amigo pessoal de Doria. Procurada, a Gocil diz que “a princípio, não vê nenhum conflito de interesses, uma vez que o Sr. João Doria informou a todos os filiados do Lide o seu desligamento por completo” para seguir carreira política. O Lide, por sua vez, ressalta que “a Gocil é cliente do Grupo Doria desde setembro de 2005, muito antes do ex-presidente deste grupo iniciar sua vida pública”. O mesmo se aplica à Convida Refeições, “cliente do Grupo desde agosto de 2003”. O Lide reforça que “Doria se desligou totalmente da empresa, profissionalizou a gestão e passou o controle acionário aos filhos.” Os adversários do governador, tanto fora quanto dentro do próprio PSDB, não deverão se contentar com esse argumento.

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