A “guerra verde” de Jair Bolsonaro em nome da soberania nacional

  • 28/08/2019
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Há uma elipse que liga os pontos do estado da Virgínia, nos EUA, o Palácio Itamaraty e o Palácio do Planalto, em Brasília. A conspiração do “grupo das relações exteriores”, chamemos por ora assim, assim, estimula Jair Bolsonaro a se inspirar nas atitudes “viris” do ex-presidente argentino Leopoldo Galtieri. Mas calma a todos os leitores. Por enquanto, pelo menos, Bolsonaro não teria intenção de ter suas próprias Malvinas. Nem de fazer ameaças bélicas. Em que pese que o morador da Virgínia aposta no apoio do morador da Casa Branca a um “enfrentamento teatral”, bem ao seu estilo.

As ações mais agressivas seriam feitas na esfera da comunicação institucional. Bolsonaro reduziria bastante o intervalo das suas aparições na TV e demonstraria em detalhes como os números disponíveis no governo são muito melhores do que os apresentados no exterior, inclusive pelo G7. Além de anunciar medidas, como policiamento militar contra as queimadas, que demonstram sua proatividade, não obstante representarem uma contradição para quem diz que está fazendo tudo certo. Bolsonaro criaria um fato político enorme montando a sua própria versão da guerra fria, a “guerra verde”. Um dos pontos que mais incomoda o presidente e – por que não dizer? – os militares são “grupos independentes” que estão aderindo à causa amazônica e, com isso, dando suporte para a intromissão de Estados nacionais.

O governo está atento à formação do que pode vir a ser o maior fundo privado civil não governamental de todos os tempos, conforme publicidade soprada do exterior. Trata-se da constituição de um instrumento financeiro em defesa da Amazônia, aberto a todos os cidadãos do mundo. As Forças Armadas consideram que a simples articulação de um fundo privado com objetivo de intervir no espaço nacional já significa um atentado à soberania. A eventual e posterior participação de governos capitalizando o fundo transformaria a operação financeira em uma forçatarefa multinacional híbrida.

Trata-se também de um inaceitável gesto de antidiplomacia, pois representa uma reprimenda pública ao Brasil, com base em dados discutíveis. No mais, a Amazônia não está à venda e nem pertence à humanidade, como insiste em dizer o morador do Palácio dos Campos Elísios. Mas o que incomoda mesmo os militares é a bravata. O que farão os militantes “pró-Amazônia” com toda a dinheirama? Gastarão fazendo lobby no Congresso? Contratarão milícias para tomar conta da Amazônia e reprimir as queimadas? Financiarão as próprias Forças Armadas, deixando explícito que estão descapitalizadas e desaparelhadas para a missão? Essa é a pergunta que deve ser feita a Leonardo di Caprio, Sting, Bill Gates, Madonna, George Soros, entre vários outros endinheirados militantes, que estão aportando, no mínimo, US$ 5 milhões per capita em um fundo amazônico de utilidade desconhecida. Se se juntarem a eles, com dinheiro público, chefes de Estado como Angela Merkel e Emmanuel Macron, criam-se as condições de extrair o pior de Bolsonaro e seus paneleiros. Além, é claro, do big brother do Norte. Parece que não estão entendendo que a coisa pode ficar muito tensa. Ruim para verdes e não verdes.

No último sábado, o Planalto despachou dois emissários para percorrer trechos da BR-163 no Pará. A ideia era selecionar grandes extensões de floresta preservada, e, então, convidar jornalistas brasileiros e estrangeiros para cruzar a rodovia ao longo desta semana. No dia seguinte, no entanto, prudentemente o governo recuou da ideia. No próprio domingo, novos relatórios divulgados pelo Inpe mostraram que os focos de incêndio registrados, neste mês, na região já superam a média histórica de agosto nos últimos 21 anos.

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