A “desmilitarização” da Reserva Nacional do Cobre

  • 6/12/2016
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A iminente suspensão do decreto que proíbe a exploração da Reserva Nacional do Cobre pelas empresas privadas e estatais joga por terra um dos mais excêntricos fetiches do regime militar. A dita Reserva Nacional é uma área do tamanho do Projeto Jari original, ou seja, o correspondente a uma Bélgica. A menção explícita ao cobre é uma licença mineropoética. A área, entre o Pará e o Acre é, na verdade, uma reserva polimetálica, com evidências promissoras da ocorrência de molibdênio, tungstênio, bauxita, cassiterita, manganês e soi-disant do cobre. Era chamada pelos militares de “Segundo Carajás”.

Qualquer atividade na região necessita da aprovação do Conselho de Segurança Nacional. A Vale tentou inúmeras vezes incorporar algumas áreas mineralógicas ao seu portfólio de potenciais jazidas. Nunca conseguiu. Eike Batista, em momento de grande prestígio com a cúpula do governo do PT, também insistiu para explorar o filé. Esbarrou em algum gabinete militar.

A criação da Reserva Nacional do Cobre tem duas versões, ambas atribuídas ao nacionalismo extremado e ao desproporcional poder decisório de um militar pouco mencionado pelos estudiosos, o almirante Roberto Gama e Silva, que migrou do SNI para a presidência do Grupo Executivo do Baixo Amazonas (Gebam). Dentro do aparato de segurança, o Gebam foi criado para ser uma espécie de irmão gêmeo do Grupo Executivo do Araguaia-Tocantins (Getat). A principal diferença entre os dois, inicialmente dirigidos ao combate à guerrilha, era a fixação de Gama e Silva em guardar em um cofre forte a riqueza mineral do país, fechando-o para sempre.

Na primeira versão do nascimento da Reserva Nacional, o almirante leva ao grande amigo presidente João Batista Figueiredo o projeto para evitar que o Brasil exaurisse suas jazidas minerais, seguindo o roteiro da Vale de comercialização in natura, sem que a matéria-prima fosse beneficiada no país e exportada com alto valor agregado. Sua sala ficava no Palácio do Planalto, relativamente próxima do gabinete de Figueiredo. Gama e Silva teria pedido ao presidente que ordenasse as Forças Armadas para resguardar a área com destacamentos. “João” deu a reserva, mas não aprovou que a região se transformasse em algo similar a uma zona de guerra.

A segunda versão diz respeito ao ódio que Gama e Silva nutria por Daniel Ludwig, biliardário dono do Projeto Jari. Reza a lenda que, em uma das reuniões entre Ludwig e Gama e Silva para destravar os obstáculos ao empreendimento, o empresário colocou um dos pés sobre uma cadeira. Gama e Silva trovejou que não suportava desrespeito, que ia cercar toda a região em uma Reserva Nacional e prometia tirar Jari de Ludwig. O ex-presidente da Vale Eliezer Batista conta outra história. O superempresário Azevedo Antunes, dono do Grupo Caemi, que depois assumiria o controle do Jari, disse que Ludwig estava com uma suave torção na perna. A tentativa de amenizar o incômodo custou-lhe bilhões de dólares.

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