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O razoável deságio de 42,3% na licitação da BR-050 não acalmou a fúria de Dilma Rousseff. Ela continua irritadíssima com a inexistência de candidatos ao leilão da BR-262. O que mais a chateou foi a falta de interlocução do seu ministério com o empresariado. O ministro dos Transportes, Cesar Borges, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tratou da parte econômica, e a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, responsável pela coordenação, simplesmente ignoraram a hipótese da ausência absoluta. A omissão de Mantega incomodou mais ainda. Ele tem contato com o empresariado e foi o orador do discurso de que o programa de concessões representaria a virada no ambiente pessimista dos investimentos. Ora, o governo vendeu o que não se empenhou em entregar. O ministro Cesar Borges, que também tinha acesso obrigatório aos grupos privados, calou-se frente a presidente, quando ela bateu pé no dogma de duplicação da rodovia em cinco anos, o décimo terceiro trabalho de Hércules. E passou batido pelo lapso cerebral do DNIT, que transformou a audiência pública do modelo de concessão da BR-262 em uma demonstração de intransigência xiita. Ou seja: não garantiria qualquer contrapartida em caso do atraso das obras sob sua responsabilidade, nem mesmo um mísero balde de asfalto. Diga-se de passagem, Dilma não soube desse episódio do DNIT. Foi comunicado também a presidenta que a BR-262 era uma das rodovias mais simples de serem privatizadas e, por isso mesmo, deveria ser uma das primeiras. Mas o que a deixou realmente possessa foi a falta de articulação do seu Estado Maior sequer junto a um único consórcio empresarial. Os tucanos fizeram isso na sua grande privatização, a do setor de telecomunicações. É bem verdade que acrescentaram temperos exóticos de combinação de preços e apoio financeiro. Mas, se houvesse uma dúvida, uma duvidazinha, sobre o fracasso do leilão, melhor seria deixar que o campo de Libra furasse a fila das concessões. A área do pré-sal sabidamente não será alvo do forfait empresarial. O fato é que a BR-262 vai ficar como um dos grandes micos do governo, ao menos no campo simbólico. Os planaltinos têm procurado acalmar a presidenta com as teses do conluio e ideologização. Estaria tudo planejado há mil anos com objetivos eleitorais. Normalmente, Dilma cai nessa. Dessa vez, contudo, a pixotada foi muito grande. Só não há degola de ministro porque os outros leilões estão logo ali na esquina e não seria conveniente carregar ainda mais o clima institucional. Mas algun(s) descansado(s) não perde(m) por esperar. Até um dia, até talvez, até quem sabe, vão ouvir atrocidades da presidenta.
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