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Acervo RR
As moiras, divindades gregas cegas que tecem o destino dos homens, já têm definido o desfecho para a crise que assola o alto-comando da Nextel. A conta do insucesso da operadora no Brasil vai para o presidente, Sergio Chaia, que, desde o mês passado, tornou-se figurinha fácil no catálogo de pomposos head hunters. A matriz não quer fazer da virtual saída de Chaia uma demonstração gritante de inépcia, o que atingiria a empresa por associação. Portanto, é possível que seja criado algum vínculo entre ele e a companhia. Mas para quem é do ramo ou trabalha na Nextel não há dúvida de que os erros estratégicos na implantação da rede 3G – projeto de US$ 2,5 bilhões – têm as digitais dos dez dedos de Chaia. O maior desacerto do executivo foi uma explosiva combinação de atraso no cronograma original do serviço, inicialmente previsto para este trimestre, com o envio de informações a matriz que mais confundiam do que elucidavam. No início do ano, chegou a bomba no quartelgeneral do Grupo Sprint Nextel, controladora da empresa: a subsidiária brasileira tinha empurrado o prazo para o fim de 2012, data que os próprios funcionários da companhia sabem ser praticamente inexequível. Quem observa de fora do mundo corporativo acha que é pura ficção que omissões, ações enevoadas e informações artificiais possam ocorrer em grandes grupos. Afinal, existem princípios de governança, práticas avançadas de gestão, auditores independentes e todas as exigências inerentes a s companhias abertas. Mas quem vive por dentro sabe que não é bem assim que gira a lusitana. No caso da Nextel, segundo fonte muito bem informada do setor de telecomunicações, a previsão para o início da operação de 3G é março de 2013. Ou seja: seis meses de atraso em relação ao cronograma original. Chaia teria tentado terceirizar a batata quente. A culpa não seria sua, mas da Huawei, responsável pelo fornecimento de equipamentos e montagem da rede 3G. Colou por algum tempo, até ficar claro que os chineses tinham comunicado havia um bom tempo as dificuldades burocráticas para desembaraçar e internalizar os produtos fabricados na asia. Coincidentemente, essa informação também demorou a chegar no Hemisfério Norte. O fato é que o adiamento do projeto da rede 3G teve o impacto de um transatlântico chocando-se contra um rochedo no plano estratégico da Nextel. Enquanto a empresa pena para instalar sua rede no país, as quatro grandes operadoras de telefonia celular já trabalham na montagem da estrutura de 4G. Chaia não deixa marcas indeléveis somente junto a seus patrões. Caso se confirme sua saída da presidência, também os colaboradores da empresa se despedirão sem prenúncio de saudade. O executivo ficou conhecido por se encastelar junto a um grupo elitizado, que se julga credor da companhia pela sua competência ímpar. Chaia certamente era quem mais acreditava nisso. Tanto que procurou misturar ao máximo sua identidade pessoal com a da Nextel no Brasil, adicionando seu valor e charme únicos. Nos últimos meses, porém, o executivo praticamente emudeceu. Reduziu sua exposição nas revistas de celebridades e nos convescotes empresariais que espocam aqui e ali pelo país. Sinal de que alguma moura já lhe soprou aos ouvidos o vento gélido da tragédia decretada pela matriz. Procurada, a Nextel informou que “não comenta rumores de mercado”. Já a Huawei informou que não se pronuncia a respeito de assuntos relacionados aos seus clientes.
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