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Governo e STF montam dossiê contra Eduardo Bolsonaro

  • 15/07/2025
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A cotação de Eduardo Bolsonaro na bolsa dos inimigos do Estado brasileiro disparou. Subestimado, mercurial, destemperado, capaz até de chamar o seu avatar, o ex-deputado Alexandre Frota para um ultimate fight na própria Câmara dos deputados, desde os idos do seu mentor, o filósofo de Carvalho, 03 foi preparado para ser o braço da extrema direita nos EUA.

O atestado do que já se sabia nas entrelinhas desde o jantar na Casa Branca, a indicação para que assumisse a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, a circulação livre nos gabinetes do Departamento de Estado norte-americano, o “autoexílio” para a conspiração a luz do dia, veio por escrito – e embalado em sobretaxas comerciais. A carta publicada no Truth Social, site pessoal do presidente norte-americano, antes mesmo de chegar oficialmente ao Palácio do Planalto, acusava a perseguição judicial a Jair Bolsonaro como estopim para a medida de restrição tarifária.

Um gesto raro de interferência externa direta, que confirmou o que muitos em Brasília já desconfiavam: o novo ciclo do trumpismo está disposto a usar a política comercial como arma ideológica. Nesse teatro, Eduardo Bolsonaro é personagem central para o alinhamento ideológico estreito com o maior país da América do Sul. O 03 chegou a confidenciar com o empresário Luciano Hang, seu principal interlocutor empresarial, que, passo a passo, o legado de Jair seria seu, segundo apurou o RR. O tal legado, pelo que se vê, seria dividido com o presidente Donald Trump.

Principal “diplomata” do bolsonarismo em Washington, o deputado licenciado deixou de operar nas sombras, a costura da retaliação americana. Nos bastidores da Esplanada, a leitura é de que Eduardo transformou o desgaste judicial do pai em combustível para seu próprio projeto internacional — e virou, de quebra, o novo alvo do aparato estatal. O filho 03 passou de cabo eleitoral da ultradireita global a figura sob vigilância total do Estado brasileiro. Em que pese que as duas coisas não são excludentes.

A movimentação do governo nos últimos dias dá conta de uma ação coordenada, envolvendo da ABIN à Polícia Federal, com intenso apoio de diplomatas brasileiros baseados nos EUA. Eduardo é observado de forma contínua, com rastreio de contatos políticos, redes de empresários e presença em eventos públicos e fechados nos EUA. Fontes no Itamaraty confirmam que as ordens são para acompanhar cada passo do deputado, inclusive suas conexões com lobistas, parlamentares e operadores da ala MAGA. O foco está nas costuras feitas por Eduardo com figuras como Steve Bannon, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, o deputado pela Flórida, Cory Mills, membros de entidades como a Heritage Foundation, fundos de investimento, think thanks e plataformas conservadoras que orbitam o trumpismo. 

Além disso, o próprio governo Lula tem atuado para mapear o entorno político do 03 nos EUA. Em despachos reservados, parlamentares petistas buscaram nomes da ala progressista americana, como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, com o objetivo de compreender o alcance da articulação bolsonarista em Washington. Um gesto de contrainteligência, disfarçado de “diálogo multilateral”. O mais grave é que são evidentes as digitais das articulações de Dudu na malsinada carta de Trump condenando o governo brasileiro.

Do ponto de vista da máquina do Estado, Eduardo deixou de ser apenas um deputado (ou ex-deputado, se confirmar o exílio definitivo nos EUA) — virou um “Chê Guevara de extrema direita”, Um opositor em trânsito, articulando alianças internacionais e monitorado como ameaça interna. Mas ao muito ao contrário do original argentino (Chê não era cubano) atua com proteção oficial em Washington, onde é visto como peça-chave da retomada do eixo Brasil–EUA sob o selo da extrema-direita global.

Enquanto isso, do lado de cá, ainda que à distância, a situação do 03 se agrava. Se ele já era alvo de inquérito no STF (ora prorrogado por Alexandre de Moraes) por suspeita de interferência nos processos envolvendo seu pai, cresce agora a pressão sobre a PGR para transformá-lo formalmente em réu por obstrução de justiça e articulação contra o sistema jurídico nacional. A leitura entre os ministros é de que, hoje,  a margem de manobra e proteção tornam Eduardo uma ameaça política à Suprema Corte maior que Bolsonaro, inclusive no campo simbólico.

O problema é como enquadrá-lo. Um eventual pedido de prisão preventiva, baseado nessas acusações, teria efeito meramente simbólico, já que a deportação de Eduardo é vista como impossível. Se o blogueiro Allan dos Santos, que teve sua extradição dos Estados Unidos pedida pelo STF em novembro de 2021 – no governo Biden! – continua por lá, que dirá o darling brasileiro da extrema direita norte americana, com Trump no poder. E mesmo que fosse essa a intenção, seria ingênua: 03 pode pedir asilo político nos EUA a qualquer minuto. E não há quem diga que o pedido não será aceito.  

Mesmo que o Judiciário brasileiro se manifestasse de de forma mais dura apenas para mandar um recado, a iniciativa mostraria altivez ou apenas atiçaria ainda mais o presidente dos EUA? Pela lógica de Trump, o STF, ao mandar prender quem o acusa, estaria confirmando a tese de perseguição judicial. Um prato cheio para a rede política e de comunicação capitaneada por Steve Bannon, que “adotou” Eduardo de vez. O mesmo Bannon que, questionado se a taxa de 50% determinada contra o Brasil não seria uma extorsão política respondeu, animado: “It’s MAGA baby”. 

De uma forma ou de outra, tanto o STF quanto a estrutura de inteligência do Planalto operam na mesma direção: acompanhar e gerar o máximo possível de evidências sobre a atuação de Eduardo nos Estados Unidos, visando a intervenção do governo norte-americano no julgamento do pai, e o enquadramento de Dudu por crime de  coação. Se o indiciamento virá ou não são outros quinhentos. Em qualquer cenário, a Suprema Corte – Moraes à frente – quer ter à mão um caso sólido; e Lula um dossiê que sirva para bater no 03 e, de quebra, em qualquer potencial adversário que se associe às tarifas de Trump, como fez, ao menos inicialmente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

#Eduardo Bolsonaro

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