Economia

Corte de gastos públicos está indexado a Donald Trump

  • 7/11/2024
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Não há, em todo o mundo, sequer um canto de jardim imune ao efeito Trump. A eleição norte-americana mudou o senso de urgência do governo Lula em relação ao tão aguardado pacote de corte de gastos. O repentino cancelamento da viagem de Fernando Haddad à Europa a pedido do próprio presidente da República levou a crer que as medidas seriam anunciadas na última segunda-feira – ver RR.

E, de fato, o governo ensaiou a divulgação das iniciativas para aquele dia. Mas recuou. Segundo fontes palacianas, na reunião de mais de três horas realizada na tarde da própria segunda-feira, houve um pedido dos ministros presentes, sete ao todo, para que Lula aguardasse o resultado da disputa eleitoral nos Estados Unidos para sacramentar as medidas. Ainda há sensatez nesse mundo.

A julgar pelo impacto já observado da vitória de Trump sobre a economia global, o cenário de curto e médio prazos exigirá do governo Lula um contorcionismo de ginasta chinês para cortar gastos em um ambiente de maior pressão inflacionária. E com uma trava que faz toda a diferença: no salário-mínimo, Lula não aceita mexer de jeito algum.

No D+1 ou “D+T”, leia-se o day after da eleição de Donald Trump, o dólar chegou a bater em R$ 5,72 – fechou o dia em R$ 5,67, praticamente estável em relação a ontem. Nos juros futuros, a taxa DI para os contratos em janeiro de 2025 passou dos 12,95% de ontem para 13,0005%. No mercado, já quem preveja um câmbio acima dos R$ 6,00, para alguns com risco de bater próximo dos R$ 6,50 – em recente entrevista ao InfoMoney, por exemplo, Alfredo Menezes, fundador e CEO da Armor Capital, mencionou a possibilidade de o dólar chegar a R$ 6,40.

Nessa hipótese, automaticamente a inflação dispararia. Maior inflação leva ao aumento da taxa de juros, que leva ao aumento do déficit nominal, que leva ao aumento da dívida pública. Ou seja: um cenário fiscal catastrófico. Some-se a isso o fato de que uma parcela expressiva da economia está indexada à inflação, a começar pelo salário-mínimo, o totem e tabu do corte de gastos. Lula não quer nem ouvir falar na hipótese de mudança nas regras de reajuste do mínimo, com base na inflação do ano anterior e da variação do PIB de dois anos antes.

O mesmo se aplica à ideia de desvinculação da aposentadoria e de outros benefícios do salário-mínimo, resistência que encontra eco no Ministério. Hoje, em entrevista ao jornal O Globo, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, disse textualmente que deixará o governo caso o corte de gastos afete direitos previdenciários adquiridos ou o aumento do salário-mínimo acima da inflação.

A blindagem do salário-mínimo e a previsão de uma pressão inflacionária ainda maior, no rastro do fator Trump, aumentam consideravelmente o desafio da equipe econômica. Em entrevista ao Valor, o economista sênior para Brasil do Itaú BBA, Luiz Cherman, afirma que a eleição de Donald Trump exige que o governo entregue um pacote de cortes superior a R$ 50 bilhões.

 

 

 

 

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