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A pergunta acima vem sendo repetida no próprio Palácio dos Bandeirantes. O motivo da apreensão é a interseção societária existente entre a Gol e o projeto do Trem Intercidades: a família Constantino. Há uma preocupação de que a recuperação judicial da Gol e sua dívida de mais de R$ 20 bilhões acabem ressecando a oferta de crédito às demais empresas do clã. E, por um efeito cascata, se tornem um óbice à execução das obras de implantação da ligação entre São Paulo e Campinas, um dos maiores investimentos em infraestrutura da gestão de Tarcísio Freitas, com valor superior a R$ 14 bilhões.
O receio do governo paulista é mais do que justificado – estranho seria o contrário. A Comporte, controlada pelos Constantino, é acionista majoritária (60%) do consórcio C2 Mobilidade, que arrematou a concessão do Trem Intercidades. Como tal, será responsável pela maior parte do funding necessário para a construção da linha férrea. A empresa é reconhecidamente uma das maiores holdings de transporte urbano do país.
No entanto, todas as suas concessões e investimentos foram assumidos em outras circunstâncias, antes do agravamento da situação financeira da Gol e do seu eventual impacto sobre a capacidade dos Constantino em buscar recursos no mercado. E, mesmo assim, um dos projetos mais importantes da Comporte tornou-se uma incógnita. Até o momento, o grupo não iniciou as obras de construção da linha 2 do metrô de Belo Horizonte, que, pelo contrato de concessão, devem ser concluídas até 2027, com início da operação previsto para 2029. Isso mesmo com o financiamento do governo federal, que já garantiu a liberação de R$ 2,8 bilhões dos quase R$ 3,3 bilhões necessários.
Diante da inquietação, mais do que natural, é obrigatório que o governo de Tarcísio Freitas, ainda que a título de hedge, se dedique a pensar em eventuais rotas alternativas para impedir qualquer solavanco financeiro no Trem Intercidades. Há caminhos bastante plausíveis. Uma das possibilidades seria obter uma linha de crédito pré-aprovada pelo BNDES, um stand by para ser usado em caso de necessidade – ressalte-se que o banco já acertou o financiamento de R$ 6,4 bilhões para o projeto. Outra hipótese seria recorrer à CAF, o banco de desenvolvimento da América Latina.
A agência multilateral já participa de outro importante empreendimento viário do governo Tarcísio: emprestou US$ 500 milhões para a expansão da linha 2 do metrô paulistano. Ainda no campo das conjecturas, uma terceira opção seria, digamos assim, uma recalibragem societária do consórcio C2 Mobilidade. Por recalibragem leia-se o aumento da participação da chinesa CRRC, que detém os 40% restantes. Se necessário, o próprio governo poderia usar seu peso político para costurar esse reposicionamento na estrutura de capital. Seguro morreu de velho. A dois anos das eleições, o que o presidenciável Tarcísio Freitas menos precisa é de um investimento de R$ 14 bilhões encalhado.
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