Economia
Governo já tem script para mudança no BC e queda dos juros
O roteiro para a redução da taxa de juros – não um tiquinho de 0,5 ou 1 ponto percentual, mas algo em torno de dois pontos – ainda neste ano já está escrito. Lula quer essa queda da taxa básica de qualquer forma; o PT está impregnado com essa obsessão; e o próprio Fernando Haddad, mesmo com toda a sua parcimônia, já não esconde que ingressou no bloco da política monetária “dovish”. Todos acima acreditam que o arcabouço fiscal vai funcionar, sem o que os juros “fora do lugar” seriam um suicídio da política econômica no médio prazo. O arcabouço, hoje, é representado por duas bandas: a do governo, que já está dada, conforme visto acima; e a do mercado, que faz cálculos e mais cálculos para demonstrar sua inexequibilidade e explora dúvidas de ordem política para carregar ainda mais nas dúvidas. Essa é a casca do problema. Mas a ordem de encaminhamento dessa redução na marra já tem um script, iniciado, ontem, com a indicação do Secretário Executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretoria de política monetária do Banco Central. O caminho que o RR identificou, e o seu passo a passo, é o seguinte:
- Galípolo vai para a diretoria de política monetária como abre-alas: entra para criar espaço e pressionar a política monetária por dentro do BC – não esquecer que, contando com ele, até o final do ano serão quatro o número de indicados por Lula para um colegiado de nove diretores:
- Galípolo tem a admiração e confiança de Haddad, e, portanto, caso Campos Neto jogue a toalha, seria um nome forte para a presidência do BC. Mas há uma alternativa, na qual o RR vem martelando, que seria formar um colegiado em sintonia com a política econômica da Fazenda. Galípolo pode ter proeminência nessa diretoria, mas não precisaria ser necessariamente o presidente da autoridade monetária.
- O nome de preferência de Lula, e do PT, conforme o RR já disse e repisou, é do economista André Lara Resende, que, inclusive, é uma espécie de mentor de Galípolo no que diz respeito à política monetária. Lula adoraria ter um projeto heterodoxo que virasse a ortodoxia dos juros pelo avesso. Um “Plano Real” para chamar de seu. De certa forma, o arcabouço fiscal é uma perna do “Plano Real” lulista. A outra está no BC.
- Daqui para frente, de acordo com o RR, vai ser pau puro em cima de Campos Neto, que não sinaliza disposição de jogar a toalha, mas pode muito bem mudar de ideia em junho, quando se reúne o Conselho Monetário Nacional (CMN). Na ocasião será discutida a meta de inflação. O governo tem maioria no CMN. Nove entre 10 integrantes do alto escalão do governo apostam que a meta será alterada e transformada em um alvo de mais longo prazo. Entre eles, há um consenso: não é o aumento da meta que fará a redução dos juros agora; mas é a atual meta estreita que, uma vez mantida, não permitirá a redução dos juros no próximo ano, por exemplo.
- A presidência do BC está apalavrada com André Lara Resende, mas não há nada que impeça um troca-troca entre ele e Galípolo, formando uma siderúrgica dobradinha na instituição. Lara Resende, como se sabe, já foi diretor influente do BC, teve um banco e é um nome vinculado à academia. Atualmente, sua cruzada contra a teoria econômica ortodoxa pode contar muitos pontos no encantamento de Lula, um personagem que sempre remou contra a maré. Mas o principal motivo é que é o único economista com uma racionalização estruturada sobre um novo constructo monetário capaz de fazer os juros “caírem”.
- Há quem aposte que Galípolo entrará no BC para fazer mais do mesmo. O RR duvida, até porque teria de se desdizer em vários pontos das suas declarações recentes. Até pode ser, mas Haddad estaria trocando seis por meia dúzia. Não é impossível. Mas é muito difícil.
#Gabriel Galípolo