Negócios

Americanas cria um efeito dominó sobre os demais negócios de Lemann

  • 12/01/2023
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O escândalo contábil da Americanas já não pertence apenas à Americanas. A “inconsistência” de R$ 20 bilhões no balanço da rede varejista desencadeia uma crise em cascata, de proporções ainda imensuráveis, colocando em xeque a lisura e a credibilidade das demais empresas pertencentes a Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. É possível confiar na gestão e, mais especificamente, nas demonstrações contábeis dessas companhias? Esta é a pergunta que grandes investidores internacionais têm feito nas últimas horas, desde o anúncio do “desaparecimento” de um passivo descomunal no balanço da Americanas. As primeiras consequências mais graves já começam a despontar. Desde cedo, corre no mercado que a Altria, dona de 10% da AB Inbev, vai pedir uma auditoria especial na contabilidade do grupo. 

Além de inevitavelmente lançar dúvidas e suspeições sobre os demais negócios de Lemann, Sicupira e Telles, o rombo da Americanas dispara uma série de questionamentos e alimenta ilações que só aumentam o nervosismo nos mercados. Recentemente, o trio de investidores vendeu oito escolas do Grupo Eleva para a inglesa Inspired Education por R$ 2 bilhões. A erupção da possível fraude fiscal da Americanas suscita as interpretações mais perturbadoras. Há relação entre um fato e outro? Não obstante sua notória capacidade financeira, Lemann e seus sócios teriam negociado os ativos para gerar liquidez? Ou haveria a intenção de criar uma reserva com o objetivo de cobrir o rombo em suas empresas? Outras vendas de ativos estariam engatilhadas? 

O track records de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles mais impulsiona do que aplaca a apreensão dos investidores e do mercado. Há estranhas coincidências ou aproximações entre o case Americanas e outros negócios do trio. Em 2021, a Kraft Heinz – também pertencente a Lemann e seus sócios – e dois ex-executivos da companhia aceitaram pagar US$ 62 milhões para encerrar uma investigação na SEC, a Comissão de Valores Mobiliários norte-americana. A gigante mundial da área de alimentos foi acusada de irregularidades contábeis por três anos seguidos, envolvendo a falsificação de contratos com fornecedores. Curiosamente, o possível rombo fiscal da Americanas também passa pela conta de fornecedores.  

Bem antes disso, o Banco Garantia, que ajudou a construir a fama de Lemann, Sicupira e Telles, foi para o vinagre devido a operações perigosas. A instituição foi investigada e multada pela CVM devido à prática de fraude cambial e remessa ilegal de dinheiro para o exterior. Uma sucessão de operações heterodoxas levou à debacle do Garantia, vendido na bacia das almas para o Credit Suisse em 1998. Quase 25 anos depois, Lemann, Sicupira e Telles estão novamente na berlinda, como protagonistas do que pode vir a ser a maior fraude contábil de uma companhia aberta na história do mercado de capitais brasileiro. O festejado trio de investidores, tal como Midas, toca com uma mão os ativos e eles viram ouro. Com a outra, faz com que eles se tornem escândalos financeiros. Quem paga o pato são os acionistas, a credibilidade dos auditores independentes e a fé pública no mercado de capitais.  O poder destrutivo dos “Lemann´s Brothers” é incalculável. 

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