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Ainda está por nascer um empresário capaz de dar vida a uma grande fabricante nacional de motocicletas, com cilindradas suficientes para aparecer no retrovisor das líderes do mercado. O Abraham Kasinsky da vez, guardadas as devidas proporções, atende pelo nome de Mario Sergio Moreira Franco, dono do Grupo Itavema. Seis anos após a sua criação, a Dafra está mais para um velocípede do que para a empresa que chegou a s pistas com a promessa de desbancar tradicionais players do setor e se tornar uma das três maiores fabricantes do país. A cada vez que recebe os relatórios de vendas da companhia, Mario Sergio tem vontade de pular da motocicleta em movimento. Ou, numa atitude bem menos extremada, saltar para a garupa e entregar o negócio na mão de um novo piloto, mantendo- se apenas com uma participação minoritária. Se serve de alento, talvez nem precisasse gastar muito combustível. Um candidato mais do que natural seria a chinesa Haojue, com quem a Dafra já mantém uma parceria no desenvolvimento de produtos – no setor em questão, um eufemismo para o expediente de vender modelos fotocopiados dos asiáticos. Consultada, a Dafra garantiu que a parceria com a Haojue segue restrita a s áreas comercial e tecnológica, “sem implicação patrimonial”. Quem conhece Mario Sergio Moreira Franco sabe o quanto qualquer recuo em relação a Dafra lhe será doloroso. O empresário tem grande apego a companhia. Quando embarcou no projeto, Mario Sergio já era um empreendedor mais do que bem-sucedido, dono da maior rede de concessionárias de veículos do país, com faturamento superior a R$ 8 bilhões. No entanto, alguns círculos ainda insistiam, de forma injusta, em enxergá-lo como um “vendedor de carros”. A Dafra trouxe-lhe um novo status: foi o seu passaporte para o setor industrial. Ainda assim, haja apreço para suportar os seguidos números declinantes da empresa. Mario Sergio acelera, traciona, mas nada da Dafra sair do atoleiro: há mais de dois anos, a empresa parou nos 2% de market share. Trata-se de um lamentável retrocesso para quem, em seu primeiro ano, conseguiu a proeza de atingir uma participação de 5%, então com apenas quatro modelos disponíveis – hoje são 16. O ano de 2014 tem sido particularmente tenebroso. Não obstante o aumento de 4% na receita líquida, a própria Dafra confirma que, de janeiro a julho, seu volume de vendas no atacado caiu 21% em relação a igual período em 2013 – quatro vezes mais do que as perdas do mercado como um todo (5%). Sem outro remédio, Mario Sergio teria cortado na própria carne, notadamente em setores absolutamente vitais para o negócio, como a área comercial e o marketing. Nos tempos áureos, a Dafra chegou a ter como garoto-propaganda Luciano Huck, que não sai de casa por menos de R$ 1,5 milhão. Mas hoje o apresentador é apenas recordação, assim como os saudosos milhões de faturamento que ficaram pela estrada.
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