O orixá que habita o Palácio do Planalto

  • 19/10/2015
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 Diz-se na Bahia que o ministro chefe do Gabinete Civil, Jaques Wagner é filho de Xangô, orixá do trovão e ligado à justiça. Que seja, mas ele também reza pela benção do profeta Davi. É preciso mesmo estar ungido para desenrolar as missões que lhe foram incumbidas. Wagner foi despachado para o Planalto com o múnus de rabiscar a minuta de uma II Carta ao Povo Brasileiro, bala de prata para enfrentamento da incredibilidade econômica, a ser usada após a superação do round golpista. Paralelamente vai afinar, dentro do Palácio, o jogo de espelhos, especialidade do chefe Lula. Algo mais ou menos como simular que o ex-presidente não pensa aquilo que disse, mas que o que disse está combinado com a presidenta e que Dilma vocaliza e governa diferente do que Lula supostamente deseja, mas no fundo, pasmem, é tudo a mesma coisa. Dessa tradução do realismo fantástico dependeria o futuro do PT e, é claro, sua performance nas eleições de 2018.   Assim, em suas articulações no núcleo duro do governo e nas entranhas do Congresso, Wagner garante, por exemplo, que o ex-presidente é a favor do ajuste fiscal, enquanto “o chefe” manda brasas no palanque contra a recessão, queda do salário real e no próprio Joaquim Levy. Tido como o mais manhoso dos petistas, cabe a Wagner negociar com o ministro da Fazenda. A diferença em relação à difícil conversa com Aloizio Mercadante é abissal. O baiano é bom de bico, fala mansa. Mal sabe Levy que Wagner vem fazendo sua cama para que, já já, venha, então, o messias Henrique Meirelles. Por enquanto, nesse finzinho de crepúsculo, o titular da Casa Civil vai acertando com seu companheiro da Fazenda os detalhes para encerrar, de uma vez por todas, a novela das empreiteiras, que está empatada há meses no mesmo capítulo, congelando a infraestrutura do país no período pré-cambriano. Wagner tem negociado com as construtoras o acordo de leniência engendrado por Levy para o desembargo das construtoras.   Nos préstimos do bom baiano pode também ser creditada a recente e indigesta rodada de conversações com Eduardo Cunha, reabrindo um canal de diálogo com o presidente da Câmara. Wagner assumiu o lugar de Temer na negociação política com suavidade, deixou Renan plácido como as águas da praia de Itacimirim, e, pasmem, conseguiu que Dilma ficasse restrita a suas aptidões, fazendo conferências sobre como estocar o vento. Wagner fala ao telefone com Lula todos os dias. Diz que gosta mesmo é de ficar em casa, um apartamento de classe média alta, no bairro da Federação, em Salvador, com vista para o mar ao fundo. Do lado, se encontra a Igreja de São Lázaro. Um conhecido médico baiano, considerado o maior parceiro de Wagner, conta que ele toma cervejinha com o pior desafeto da mesma forma que bebe com os amigos. O cabra é protegido.

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