Uma nova química contra a sinistrose brasileira

  • 13/05/2015
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Há um truísmo que deve ser guardado no bolso. É a máxima que conclui não existir “bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. O governo Dilma Rousseff, na contramão do ambiente gerado pela mídia, pode estar ensaiando uma virada benigna. Usando a feliz expressão do cientista político Edson Nunes, há micro-transformações em andamento, esse, aliás, um processo contínuo. Outro truísmo: o país engendra suas soluções por maiores que sejam os problemas. A presença discreta da presidente pode ser um movimento mais significativo do que parece. Dilma deixou simplesmente o pessoal trabalhar. Joaquim Levy e Alexandre Tombini apertam o torniquete para quebrar as expectativas inflacionárias, ambos com um target invisível de índice máximo de desemprego, precondição para o arrocho. E todos os ministros, secretários, bancos públicos e agentes reguladores que têm maior envolvimento com a equipe econômica estão centrados em destravar o maior número de concessões de obras públicas. O novíssimo vem de fora e combina como a azeitona com o gim, ou o vermute no dry martini. A disposição do investidor estrangeiro em aportar mais recursos no Brasil, mesmo em um ambiente conturbado, podia até ser previsível. Mas a dimensão das cifras sobre a mesa sequer era cogitada. Da China, fala-se abertamente em US$ 54 bilhões. Há expectativa de que a viagem aos EUA seja capaz de atrair entre US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões em investimentos diretos e, principalmente, linhas de financiamento para os projetos de infraestrutura. Os japoneses têm investimentos anunciados em energia e estão dispostos a colocar recursos em grandes projetos agrícolas. Coisa de US$ 20 bilhões. E uma informação de cocheira: interlocutores do governo russo estiveram com uma figura muito querida e prestigiada, poliglota de sete línguas, para aplainar sua entrada em campo com uma sacola de dinheiro. Ao que tudo indica, há uma percepção dos donos de dinheiro do mundo que a rentabilidade pós-crise de 2008 vai se estender mais do que previa o capital. A hora seria de afrouxar a aversão ao risco. O Brasil, por sua vez, remunera alto e ficou barato, além de ser o mais saboroso pomo a ser conquistado nessa corrida geoeconômica que começa a ganhar velocidade. Nada sai tão barato, é claro. Virão junto com os investimentos a exigência de contrapartidas. A primeira será uma cajadada no Mercosul. É a mais simples, já que a Argentina colaborou com o desmonte do bloco comercial fazendo um acordo bilateral com a China pelas nossas costas. Depois, teremos um pedaço do setor de engenharia básica, um pedação da construção pesada, a importação de mão de obra (notadamente chinesa) e mudanças na legislação do pré-sal. Parece muita efervescência, tudo ao mesmo tempo agora. Mas não de hoje que essas nanoreformas e mudanças moleculares vêm se dando no organismo enfermo da economia brasileira. São as micro-transformações de que fala Edson Nunes. Um dia, elas aparecem.

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